26 de fevereiro de 2006

ECOCHATO!

E o que é um ecochato?

Entendo o ecochato como aquela pessoa que vive falando, sem parar, em defesa do meio ambiente em todas as situações: no ar, na água e no solo, independente de estar ou não com a razão. Sempre vai estar dando uma opinião conservadora sobre o assunto. E às vezes atrapalha e comete um desserviço ao meio ambiente. Eu penso que o ecochato é um amador oportunista.

Na verdade, estes “nerd” são apenas pessoas que percebem que não há separação entre o homem e o ambiente e que preservar a natureza é melhor para todos, inclusive para elas. São pessoas que buscam a harmonia entre a sua satisfação, a preservação do ambiente e o bem-estar social. É claro que este elemento tem uma preocupação muito grande com o seu e o nosso bem-estar. Mas precisa exagerar?

Escolher as verduras que não contêm agrotóxicos, lavar as mãos e fechar a torneira enquanto as ensaboa, não lavar o carro todos os dias, selecionar o lixo separando o orgânico do reciclável e enviando para a coleta seletiva, ir a pé para o trabalho e tantas outras ações simples e diárias, que colaboram para preservar e melhorar o ambiente em que vivemos, não é muita caretice? Não, esta é a opção correta para todos nós. Agora, quando encontramos um chato que se preocupa com a poda de uma mangueira que está para acabar com a energia de milhares de outros ou com o curió do vizinho que está lhe perturbando, aí não dá para agüentar mais. E gritamos logo: “Vai te catar, ecochato!”...

Os verdadeiros problemas ambientais, àqueles referentes a queimadas, tráfico de lenha e carvão, desmatamento de mata ciliar, contaminação dos rios, pesca predatória e ruído infernal do trânsito podem esperar que, primeiramente, sejam resolvidas essas minúcias?

O Brasil tem leis e regulamentos aos borbotões sobre o meio ambiente. Determina o que fazer com o nosso quintal (o Pará) e com o quintal do vizinho, através de decretos de novas unidades de conservação, parques ambientais e florestas nacionais. Todos acham ruim, porque vão tirando a “boquinha” com que se acostumaram há décadas: os madeireiros, os fazendeiros, os garimpeiros, os consultores e os políticos. Os madeireiros porque degradavam as terras ao redor para arrancar um “pé de pau”; os fazendeiros porque devastavam as florestas para colocar bois no pasto, os garimpeiros “desmontam” morros e áreas verdes para tirar os minérios do subsolo, os consultores deixam de prestar serviços e os políticos perdem votos porque não conhecem nada do assunto. E todos perdem. O manejo da área trabalhada por qualquer pessoa que utilize os recursos naturais deveria ser a prioridade. Inclusive para ensinar, na prática ao ecochato amador e oportunista, que um casal de periquitos em extinção não pode ser mais importante que a vida humana.

Na verdade, acredito que a legislação é boa e é extremista. Ou será que alguém acredita que se consegue preservar 80% da extensão da propriedade porque a lei o determina? Isto é extremismo! Ou que os órgãos públicos realmente colaboram com o meio ambiente reciclando e reutilizando os recursos aproveitáveis? Ou que os analistas e/ou fiscais ambientais de todos os órgãos federais, estaduais e municipais serão os primeiros a não jogar lixo no chão, fechar a torneira e selecionar o lixo enquanto os outros não estiverem olhando? E todos fecham um olho para dizer que a nossa legislação é a melhor do mundo em matéria de meio ambiente. E com o outro fingem não ver nada que lhes seja incômodo.

O professor Marc Dourojeanni mostra que “conservar, aproveitar razoavelmente os recursos naturais, deixar opções para o futuro, não será jamais o resultado do amadorismo e da espontaneidade. Isso requer pesquisa científica, desenvolvimento e teste de tecnologias, estudos sócio-econômicos sérios e a constatação de fatos, legislação baseada na ciência e nos avanços tecnológicos e, claro, na realidade nacional, regional ou local, ou seja, em soluções que são social e economicamente possíveis, ainda que nem sempre perfeitas e nem as mais avançadas do mundo, que ninguém interessa cumprir. Os conceitos de ecologia e meio ambiente obtiveram, sem dúvida, muita simpatia e apoio popular. Porém, teriam obtido muito mais apoio, mais duradouro e consistente, se fossem aplicados com mais sensatez e moderação, eliminando ou pelo menos limitando suas contradições e as aberrações”.

O trato com o meio ambiente é muito sério para termos amadores e oportunistas se imiscuindo e atrapalhando. Nós podemos deixar um local agradável para as futuras gerações, mas também podemos torná-lo extremamente insustentável. Precisamos aprender mais e sempre passar para o próximo mais próximo a melhor forma de resolver a situação.

Não é doando alguma coisa que se prepara o futuro, mas mostrando junto, fazendo junto e consumindo junto que se demonstra o melhor caminho e a melhor ação para os despreparados.

Então posso dizer que o ecochato é o jornalista que deturpa as notícias, o político que se aproveita da situação, o pesquisador que não quer divulgar seus trabalhos, o homem público que mente pra se dar bem e o “zé povinho” que não quer participar de nada sendo levado de roldão pela historia.

Enfim, o ecochato pode ser qualquer um de nós!

NOTA DO POSTER: Este artigo foi publicado no Blog do Jeso. Tomei a liberdade de inserir algumas palavras e contornar outras.

3 comentários:

Desambientado disse...

Está com muita piada.

Jubal Cabral Filho disse...

Negativo. Ainda nem começou.

Dimas Munhoz Gomez disse...

Esse rótulo é uma tentativa de desqualificar as ações de gente que faz alguma coisa, mesmo que nem sempre da melhor maneira possível. Nada pode estar acima da verdade e dos direitos fundamentais. Nada. Você comentou a destruição de uma árvore e a vida de um curió. As árvores não estão vivas? E o curió? O errado é manter o curió na gaiola, não o ecochato que defende a vida, um direito constitucional inalienável. Animais são tutelados pelo Estado e têm seus direitos garantidos pelo decreto-lei 24.645/34 e pela lei federal Nº 9.605/98. Por favor, se for testemunha de maus-tratos e registrar a ocorrência, com base nas leis acima. Denunciar é um dever e não fazer implica em omissão. Você pode entrar em contato comigo, se desejar.

Atenciosamente,
Dimas Gomez.
GEDA-SP (Grupo de Estudos de Direitos Animais de São Paulo)