25 de agosto de 2018

TG 190

Não sei quem é o autor...

Um dia usei farda, camuflagem, cantil e fuzil. Cavei trincheiras, marchei em ordem unida. Prestei continência, corri em acelerado. Cantei o Hino Nacional, da Bandeira e da Infantaria. Tirei guarda, fiz faxina, puxei pernoites. Fiz corridinhas mixurucas que não davam nem pra cansar. Aprendi sobre honra, retidão, respeito e confiança e que armas não geram violência e flores não trazem a paz. E sim, as intenções das mãos que as carregam. Aprendi que devemos respeitar Pai e Mãe. Que a família é a base da educação. Hoje minha farda não é mais um camuflado. Algumas fotos já amareladas pelo tempo, me acertam o peito e fazem meus olhos jorrarem. Minha garganta sufocada por um nó de saudade, me lembra que a minha missão já foi cumprida. Que minhas batalhas já não são mais em trincheiras. Do estampido do fuzil nunca me esqueço e ainda sinto o solavanco da chapa da soleira em meu peito. As noites na guarda, ainda estão nas lembranças e os amigos de Companhia em meu coração. Não uso camuflagem, nem mato minha sede no cantil, nem presto mais continência e nem ordem unida. Mesmo assim, minha alma nunca deixará de ser um Soldado.
Homenagem a todos os militares de vocação e aos meus amigos de hoje e sempre!

Selva!

13 de agosto de 2018

A Arrecadação do CFEM subiu, mas a Produção de Ouro acompanhou?


Jubal Cabral Filho*

A Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais - CFEM é distribuída ao Estados, Distrito Federal, municípios e órgãos da administração da União. Existe uma discussão imensa se esta compensação é um tributo, taxa ou seja lá o que o governo quiser dizer. Só se sabe que é uma obrigação comum a todos os exploradores de minerais e ao 1° comprador de ouro proveniente dos garimpos.
Ela é creditada automaticamente, em contas correntes específicas, no sexto dia útil que sucede ao recolhimento por parte das empresas de mineração ou DTVM’s aplicados em projetos que, direta ou indiretamente, revertam em prol da comunidade local, na forma de melhoria da infraestrutura, da qualidade ambiental, da saúde e educação. A utilização desses recursos para o pagamento de dívidas ou do quadro permanente de pessoal da União, dos Estados, Distrito Federal e dos Municípios está terminantemente vetada (Decreto nº 01, de 11/12/1991).
Devido às mudanças efetuadas houve um acréscimo substancial na arrecadação.
“Em 2018, todos os meses têm apresentado crescimento na arrecadação na comparação anual, devido às mudanças no cálculo e na alíquota dos royalties da mineração. Julho, no entanto, tem a maior arrecadação do ano até o momento, ultrapassando maio, quando a arrecadação foi de R$ 238 milhões. De  acordo  com  análise  realizada  pelo  Notícias  de  Mineração  Brasil  (NMB),  a  partir  dos  dados disponíveis pela ANM de janeiro de 2005 a julho deste ano, a arrecadação no mês passado é a quarta maior da história, atrás de outubro de 2012, quando o valor foi de R$ 250,3 milhões; fevereiro de 2013, R$ 298,9 milhões; e janeiro de 2013, o recorde até o momento, com R$ 413,5 milhões. Na comparação anual, a arrecadação de julho deste ano teve crescimento de 76% em comparação com o mesmo mês de 2017, quando a arrecadação foi de R$ 141,6 milhões.” (Notícias de Mineração, 02/08/2018)
Estivemos acompanhando a arrecadação do CFEM desde o ano passado e nesse primeiro semestre (janeiro-junho) a arrecadação, em Itaituba foi excepcional em termos monetários, mas fica a dever em termos produtivos. Vejamos:
  • ·         A arrecadação do CFEM no período de janeiro a julho/2017 foi de R$1.340.175,84 ( um milhão, trezentos e quarenta mil, cento e setenta e cinco reais e oitenta e quatro centavos), em Itaituba (Fonte: DNPM).
  • ·         No mesmo período, em 2018, a arrecadação alcançou o valor de R$ 3.233.168,27 (três milhões duzentos e trinte e três mil, cento e sessenta e oito reais e vinte e sete centavos), em Itaituba. E tem um porém: nos meses de março e maio/2018 não houve recolhimento de CFEM! (Fonte: DNPM).
Houve um aumento na arrecadação quase três vezes maior em relação ao ano de 2017!
Mas ficam alguns questionamentos...Como houve um aumento na alíquota de recolhimento do CFEM de 0,2%, no ouro proveniente de garimpos, para 1,5% (isto é 7,5 vezes mais) deveríamos ter tido uma arrecadação 7 vezes superior e não só aproximadamente 3 vezes como indicado por fontes oficiais. Isto significa que tem algum erro já diagnosticado e deve ser na fiscalização efetiva das bases produtoras e das bases compradoras.
Quanto à produção de ouro podemos inferir que houve um decréscimo acentuado na extração aurífera garimpeira e as razões para que isso acontecesse são diversas: vão desde o aumento no descaminho, falta de fiscalização dos órgãos oficiais até a troca de acusações entre garimpeiros, compradores de ouro e a gestão municipal.
E tem conserto a médio prazo!

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Jubal Cabral Filho – geólogo.

12 de agosto de 2018

Geologia sem Geologuês!

Jubal Cabral Filho, Geólogo. - 05/02/2018

Uma das tarefas mais difíceis para um geólogo é se manifestar sobre as ciências da Terra tentando alcançar o público comum. E a palavra “comum”, aqui expressa, não tem o sentido de desmerecer as pessoas que “não estão por dentro do assunto”, mas simplesmente por ser extremamente difícil falar sobre a geologia sem usar terminologia técnica, conhecida como “geologuês” entre nós, geólogos. “A Geologia é a ciência que estuda a crosta terrestre, a matéria que a compõe, seu mecanismo de formação, as alterações que ocorrem desde sua origem e a estrutura que sua superfície possui atualmente”. Como traduzir todas essas expressões em termos comuns?

 Acho que encontramos a saída ou a “Ametista”, que é definida como a “Pedra da Sabedoria e do Equilíbrio”.

 Um colega do curso de geologia na UFPa, hoje um vetusto senhor, com muita sabedoria encorpada (ele se define como geólogo há mais de 40 anos, com formação na UFPa e no Imperial College, Londres – UK, sempre envolvido na formação de bacharéis, mestres e doutores nas universidades do Brasil.) resolveu, após sua aposentadoria, montar uma equipe multidisciplinar e explicar a geologia sem usar o geologuês. Na verdade, o currículo do líder desta equipe, João Batista Sena Costa, resumidamente, assim é descrito: tem graduação em Geologia pela Universidade Federal do Pará (1977), especialização em Geologia pela Universidade Federal do Pará (1980), mestrado em Geologia e Geoquímica pela Universidade Federal do Pará (1980), doutorado em Geologia e Geoquímica pela Universidade Federal do Pará (1985) e pós-doutorado pela Royal School Of Mines Imperial College (1987). Respeitabilíssimo.

O projeto foi denominado História das Paisagens e visa documentar por intermédio de textos leves e ilustrações hiper-realistas, reconstruindo os ambientes através de tempos geológicos, integrando aspectos da história ambiental e dos recursos naturais em uma linguagem própria. Estão previstos 13 volumes sobre Patrimônios da Terra na América do Sul e 03 volumes especiais. O primeiro volume já foi lançado com o patrocínio financeiro da CBMM – Companhia Baiana de Metalurgia e Mineração – denominado “A Serra da Canastra e o Rio Paraná” e é apaixonante ser transportado para dentro da rica e exuberante história de nosso planeta de uma forma tão gostosa de se ler. Numa analogia, poder-se-ia dizer que estamos adentrando numa leitura cinematográfica digna dos mestres da ficção sobre a História das Paisagens!

Agora está sendo elaborado um volume que vai “falar” sobre a Amazônia Oriental e o Atlântico Equatorial, que inclui os estados do Pará e Amapá, a região noroeste do Estado do Maranhão e parte do oceano Atlântico Equatorial, para fornecer conhecimento científico geológico e de áreas afins, de forma simples, para atingir professores e alunos de todas as séries, seja na rede pública ou privada. Com certeza, este conhecimento vai nos ajudar a valorizar muito mais o meio ambiente e os recursos naturais desta região em que nascemos, nos criamos e, provavelmente, estamos construindo nossa carreira profissional e dos nossos filhos.

Resumindo, vamos falar o “geologuês” de forma mais simples. Por exemplo, ao tentar diferenciar um lençol freático de um aquífero poder-se-ia explicar assim: um aquífero é como um garrafão de agua mineral, límpido e puro; e um lençol freático é como água numa sarjeta, ainda com as impurezas até que os filtros naturais tenham funcionado. Ou quem sabe mostrar para o pequeno minerador de ouro (garimpeiro) que uma pesquisa simples com sonda tipo Banka é mais barato do que utilizar uma escavadeira em local propício a mineralização. Falar sobre o potencial e a realidade mineral da região do Tapajós com termos, ilustrações e percepções adequadas ao linguajar local. 

 Estas serão nossas ambições.

Então...mãos à obra!

 


Leia também: Coleção reúne livros que explicam a formação e evolução da Terra - http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,colecao-reune-livros-que-explicam-a-formacao-e-evolucao-da-terra,70002172749

11 de agosto de 2018

O Ouro do Tapajós: o começo?

Publicado em 20/03/2018 em O EstadoNet - Jubal Cabral Filho é geólogo, mora e trabalha em Itaituba(PA):
Ao longo de toda a história da humanidade, o ouro foi escolhido como meio de troca, substituindo o sal e outras formas de escambo, principalmente por ser, além de raro, bonito, brilhante, imune à corrosão e fácil de ser derretido e moldado. Foi o rei Cresus da Lídia, uma região da atual Turquia, que pela primeira vez cunhou moedas do metal com sua insígnia, por volta de 560 a.C. A partir daí o ouro virou dinheiro, auxiliando comerciantes na realização de seus negócios.
A necessidade de descobrir jazidas de ouro e prata para satisfazer o “apetite” voraz da Corte Portuguesa (e por tabela, de outros reinos europeus), além da ambição de riqueza imediata (da mesma forma que ocorre nestes dias) foram os principais motivos para que os bandeirantes adentrassem além dos limites do Tratado de Tordesilhas, o qual limitava as terras portuguesas e as espanholas, para descobrir um novo potencial mineral no país.
Os bandeirantes já haviam se arriscado desde São Paulo por Goiás e Minas Gerais na tentativa de descobrir mais e mais jazidas de ouro e prata, resolvendo se atrever ainda mais pelo limite da linha imaginária que demarcava o Tratado. 
Um deles, em 1718, chamado Pascoal Moreira Cabral Leme chegou a região que seria chamada, posteriormente, de Mato Grosso (batizadas em 1734 pelos irmãos Paes de Barros, impressionados com a exuberância das 7 léguas de mato espesso) e subindo o rio Coxipó descobriu enormes jazidas de ouro, dando início à corrida do ouro, fato que ajudou a povoar esta região.
Em virtude de possível esgotamento das jazidas auríferas do Mato Grosso e da vontade de empreender novos horizontes, os aventureiros continuaram explorando a região ao redor e além dos limites conhecidos. Um deles, cabo Leonardo de Oliveira, vindo do Mato Grosso, adentrou em 1742, chegando a boca do rio Tapajós.[1] Sobre esta viagem temos poucas informações, estando o único documento que fala deste feito arquivado em Évora – Portugal (informação do historiador Sidney Canto). Em 1746/1747, o ituano João de Souza Azevedo, desceu o rio Tapajós, a partir do rio Preto (dos Arinos e, posteriormente, Teles Pires) até Santarém, onde foi preso por ordem do padre Manoel dos Santos, por desobedecer às ordens da Coroa portuguesa, que proibia o trânsito entre o Mato Grosso e o Pará via acesso hidroviário[2]. Na sua viagem “achou outra mina no riacho Três-barras, afluente do Tapajós, e descendo por este em 1747 até a sua foz, com trinta e cinco dias de viagem passou ao Pará, participou a descoberta de sua navegação ao Governador do Estado Francisco Pedro de Mendonça Gurjão, que também a comunicou à Corte[3].
Após o episódio de João de Souza Azevedo ocorre uma lacuna histórica e não temos (ainda) ocorrência descrita sobre a exploração aurífera nesta região até o final do ano de 1950, tendo início a grande exploração de ouro do Vale do Tapajós, quando Nilson (ou Nilçon) Barroso Pinheiro, encontrou uma grande concentração aurífera na região do rio das Tropas[4], dando início à grande corrida do ouro na região que perdurou, com intensidade, até 1990. Tão logo surgiu a notícia da “descoberta de uma gigantesca jazida de ouro num igarapé chamado Pacu, próximo de Itaituba, e que mais tarde ficou conhecida como a maior área aurífera do mundo, com cerca de dois mil quilômetros quadrados[5], milhares de pessoas (na maioria nordestinos) vieram para esta região na tentativa de enriquecimento rápido.
Em 1962, o então deputado Ferro Costa, da UDN/Pará, em entrevista exclusiva ao “Diário de Notícias” dizia que fez uma exposição ao ministro Gabriel Passos sobre a exploração de ouro no vale do Tapajós e pedindo que “fossem colocadas homens de gabarito na SPVEA e não politiqueiros. Alertava também que “a Amazônia pode tornar-se um dos esteios da economia nacional, sem precisar ser colocada na humilhante condição de pedinte”[6]
Os garimpos do Tapajós tiveram intensa movimentação, a partir de sua “descoberta”, quando os garimpeiros encaravam “varações” intermináveis, dias infindáveis em barcos e canoas subindo os rios da região no afã de descobrir novos garimpos, até que a aviação dominasse o acesso.
Atualmente a atividade garimpeira de ouro ainda é intensa, mesmo com a displicência governamental em subsidiar as pesquisas e minimizar a dilapidação deste bem mineral.
Mas aí já é outra história.



1 Os Exploradores da América do Sul - Edward Julius Goodman, 1972.
2 Comentário do historiador Sidney Canto no Blog do Jeso, 2012.
3 Corografia Paraense, ou, Descripção fisica, historica, e politica da provincia do Gram-ParaIgnacio Accioli de Cerqueira e Silva, 1833
4 A Redescoberta do Ouro – A. Ferreira & N. Horita, 1995.
5 Memorias de um Repórter – Fernando Pinto, 2004.
6 Diário de Notícias – 23 de janeiro de 1962.