2 de maio de 2017

Qual a regra do Licenciamento Ambiental?

Desde o ano passado, deputados e senadores tentam aprovar uma série de Projetos de Lei que alteram as regras do licenciamento ambiental no Brasil. As mudanças são controversas, e as negociações para votar as mudanças no Congresso envolvem governo, empresas e ONGs. O resultado é a existência de vários textos, que prometem melhorar a eficiência e reduzir a burocracia para as empresas – e podem melhorar ou piorar a proteção ao meio ambiente no Brasil.
O Blog do Planeta começa agora uma série de três reportagens sobre o licenciamento ambiental. Vamos debater o que está errado na forma como os empreendimentos são licenciados atualmente para depois analisar as mudanças que podem ser aprovadas.
O licenciamento ambiental nada mais é do que uma estratégia do estado para equilibrar a atividade econômica e o meio ambiente. Uma empresa que queira fazer uma obra, por exemplo, precisa antes de mais nada comprovar que não poluirá ou destruirá as áreas naturais. Ela apresenta estudos e relatórios mostrando isso e consegue uma licença para operar. Esse processo enfrenta inúmeras críticas, como atrasos e excesso de burocracia, o que fez com que mais de uma dezena de deputados apresentasse Projetos de Lei tentando mudar as regras do licenciamento. Mas o que, exatamente, está errado no licenciamento?
O primeiro problema, e talvez mais óbvio, é que não existe nenhuma lei regulamentando o licenciamento. A Constituição de 1988 exige isso, só que o Congresso nunca havia se interessado muito no assunto. Um projeto do deputado Fábio Feldmann, de 1988, por exemplo, chegou a ser aprovado em três comissões e nunca foi votado em plenário. Sem regras vindas do Congresso, os órgãos ambientais passaram a definir as normas por meio de portarias e decretos. Os setores que mais criticam essas portarias – como empresas da área de energia, da indústria e da agropecuária – veem essas regras como um entrave para a atividade econômica, atrapalhando o desenvolvimento do país.
São duas queixas principais: atraso em obras e aumento de custos. O Projeto de Lei do deputado Mauro Pereira (PMDB-RS), um dos que alteram as regras do licenciamento, concorda com essas queixas. Seu relatório diz que o licenciamento precisa de uma regra geral que “favoreça a melhoria da gestão ambiental e reduza, por outro lado, a burocracia, atrasos e a consequente perda da competitividade para a economia nacional”.
Pereira dá exemplos da perda de competitividade. Ele cita um estudo feito pelo Banco Mundial, em 2008, especificamente sobre licenciamento no setor elétrico. Esse estudo chegou à conclusão de que “lidar com questões ambientais e sociais representa 12% do valor das obras de construção de usinas hidrelétricas”. Outra análise, feita pelo Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico, estima que o tempo médio para o licenciamento de grandes obras é de dez anos, prazo considerado excessivo pelo deputado.
Mas não é só o setor produtivo que critica a situação. Ambientalistas também encontram problemas no licenciamento ambiental, mas de outra natureza: eles dizem que as licenças não estão conseguindo atingir o objetivo de proteger o meio ambiente. “A má burocracia compromete os dois lados”, diz Malu Ribeiro, da SOS Mata Atlântica. “Não é verdade que o licenciamento ambiental impede o desenvolvimento. Ele não consegue impedir nada. Nem estádio de futebol em área de preservação permanente em local que ninguém nunca jogou futebol no país foi impedido”, diz, se referindo à Arena Pantanal, em Cuiabá. A arena foi flagrada, na época de construção, despejando detritos em área de preservação.

Imagem aérea das obras na Arena Pantanal, em Cuiabá (MT), um dos estádios da Copa do Mundo (Foto: Jose Medeiros/Portal da Copa/AP)
Imagem aérea das obras na Arena Pantanal, em Cuiabá, Mato Grosso, um dos estádios da Copa do Mundo (Foto: Jose Medeiros/Portal da Copa/AP)
 
A principal crítica feita pelo lado ambientalista está no Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima). Pelas regras atuais, não há um padrão de qualidade para os EIA-Rimas apresentados pelas empresas. Isso faz com que muitas obras atrasem e fiquem paradas nos órgãos ambientais porque seus projetos são ruins ou apresentam dados insuficientes. Pressão política para conceder licenças também é uma reclamação comum. Só para ter uma ideia, as três grandes hidrelétricas construídas na Amazônia recentemente (Santo Antônio, Jirau e Belo Monte) sofreram denúncias de pressão para emitir licenças, e as investigações da Operação Lava Jato mostram indícios de corrupção na obtenção de licença ambiental para pelo menos uma delas, a Hidrelétrica de Santo Antônio, construída pela Odebrecht.
De uma maneira geral, os dois lados dessa polarizada discussão concordam que o licenciamento precisa ser melhorado. Não faltam Projetos de Lei para tentar preencher o buraco. Esses projetos têm condições de resolver o problema? Na próxima reportagem da série, analisaremos os quatro principais textos em tramitação para alterar o licenciamento.

Por: BRUNO CALIXTO
Fonte: Época Blog do Planeta

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