22 de setembro de 2010

A próxima vítima


Um presidente pode ser melhor ou pior, um Governo pode ser mais ou menos eficiente, há políticos com maior ou menor vocação autoritária, mas é rara a eleição que muda mesmo a vida de cada um de nós (exceto, claro, daqueles que passam a mamar nas fartas tetas oficiais). Já as violações da lei e da Constituição, quando toleradas, mudam muito nossa vida. De repente, o inocente é punido sem ser condenado, é preso sem processo formado, é vítima sem ser julgado.
E sua vida, caro leitor, já está exposta ao público. Noticia-se que a Petrobras obteve a quebra do sigilo de 400 mil pessoas, em nove anos (para ter informações sobre candidatos a emprego). Mas é injusto culpar a Petrobras: ela segue uma regra disseminada entre as empresas brasileiras, que adoram vasculhar a vida dos candidatos a emprego. As autoridades costumam aceitar a quebra do sigilo dos outros, mesmo sabendo que é crime punível com até seis anos de prisão.
As empresas alegam que têm de conhecer direito quem é que estão contratando. Talvez até tenham razão; mas, então, que lutem para mudar a lei. E como explicar violações de sigilo que nada têm com emprego? Esta coluna já citou o caso de João Alckmin, combativo radialista de São José dos Campos, SP, que enfrenta a máfia dos caça-níqueis. Os sigilos dele foram violados mais de 20 vezes em dois anos, e por entidades como a Polícia cearense, por exemplo, ou a Polícia Rodoviária. Tudo ilegal - e ele não está procurando emprego em lugar nenhum.
Isso acontece, caro leitor. E ninguém está seguro.
Segredos à venda
O caro leitor nunca fez nada de errado e não teme quebras de sigilo? Perfeito: se se sente bem assim, que tome a iniciativa de divulgar seus dados. Nunca mais terá paz em seu endereço, em seu telefone. Cada malfeitor da cidade saberá exatamente quanto pode obter num assalto, ou sequestro, e quais as pessoas mais vulneráveis da família. Mas, de qualquer forma, não precisa se preocupar em divulgar sua vida: já tem boas chances de que sua vida financeira esteja nos CDs vendidos no centro de grandes cidades (em São Paulo, na rua Santa Ifigênia), por dez ou quinze reais. Há especialistas que vão buscar sigilos outros, mais elaborados, de pessoas específicas, cobrando algo como dois ou três mil reais.
A palavra do leitor
Humberto Domingos Pastore, de São Caetano, SP, assíduo leitor desta coluna, envia sua colaboração sobre sigilos, baseada no poeta russo Maiakovski:
Um dia violaram o sigilo fiscal dos políticos adversários. E se achou normal.
Um dia violaram o sigilo dos filhos dos políticos adversários. E se achou normal.
Um dia violaram o sigilo dos apresentadores de televisão. E se achou normal.
Um dia violaram o sigilo de grandes empresários. E se achou normal.
Quando violaram o sigilo de um caseiro para beneficiar um ministro, já haviam achado normal.
Quando vão reconhecer a gravidade desta situação?
O dia certo
Este colunista tem a resposta: só quando os culpados virarem vítimas.
Tiroteio chato
Decidir eleições provando que um candidato é mais ladrão do que outro é uma forma pobre de exercer a democracia. Ninguém fica sabendo, no meio do festival de denúncias, o que é que cada candidato pretende fazer em áreas importantes, como segurança, saúde, educação, política externa. Vamos combater a hegemonia americana submetendo-nos à hegemonia de Hugo Chávez? Que é que o candidato pretende fazer com relação ao narcotráfico - da liberação da venda da droga à guerra total aos traficantes? E os viciados? Discutir quem é mais ladrão é triste: espera-se dos candidatos, ao menos, cuidado com o que é de todos.
DE BRICKMANN & ASSOCIADOS
Carlos Brickmann carlos@brickmann.com.br

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