14 de abril de 2010

O Uso do Cianeto nos Garimpos do Tapajós

Esta postagem vem para suprir o entendimento de um comentário feito aqui por um anônimo e também, por um “papo” rápido com o Liberal sobre o assunto.
Inicialmente, para aumentar o interesse e conhecimento dos que não trabalham ou não estiveram em áreas de garimpos deveremos entender quais são os processos usados na recuperação do ouro.
Durante muito tempo – quando havia uma abundancia no ouro aluvionar de mais fácil lavra e extração – utilizava-se o processo gravítico (separação por densidade) seguido da amalgamação por mercúrio. Estes processos consistiam basicamente em separar o ouro, que tem como característica, a alta densidade em relação aos demais minerais da ganga, através da concentração gravítica, depois prover a cominuiçãoé o processo de tranformação em uma granulometria adequada ao processo de concentração utilizado - e finalmente amalgamar com mercúrio. Esta amálgama é levada (ou deveria ser) para um local fechado e colocado em uma retorta para a sua queima e reaproveitamento do mercúrio utilizado.  

Como não é o escopo deste artigo nos concentraremos em explicar o processo de lixiviação em pilha, mais conhecido nos garimpos da região como “pia”.
Este processo, que deverá ser acompanhado por um profissional de reconhecida capacidade técnica e com registro em seu órgão de classe é executado com o objetivo único de separação e consiste, tipicamente, na remoção do metal de valor de modo a separá-lo de uma grande massa de ganga com um beneficiamento mínimo do minério.
Na lixiviação em pilha o material é depositado em forma de montes e permanece a céu aberto. O local de deposição destas pilhas deve ser forrado com lona de PVC para torná-lo impermeável. Para tornar a atividade menos dispendiosa deve se manusear várias pilhas simultaneamente, ou seja, enquanto uma está sendo montada, outra é lavada, outra é neutralizada etc. A duração aproximada do ciclo operacional completo por pilha é de 100 dias, devendo ser evitado o período de chuvas intensas. A solubilização do ouro contido nas pilhas se dá através da percolação de solução de cianeto de sódio – relativo ao fluxo da solução no solo - o qual será transferido e absorvido em filtros de carvão ativado. Através de um processo de eletrólise, o ouro será liberado e seguirá para fundição e montagem dos lingotes. Como forma de maximização produtiva, o carvão ativado pode passar por lavagem ácida e por uma regeneração térmica. Parece bem simples, mas na prática o processo não ocorre assim, de forma tão aparentemente linear.
O cianeto é uma substância comercializada na forma sólida e com ela é preparada uma solução de cianeto de sódio (NaCN) para que possa ser usado posteriormente. Calcula-se que para cada tonelada de minério consuma-se 250 gramas de cianeto para a dissolução do ouro nele presente. Além do cianeto, outras substâncias são necessárias na produção, tais como: soda cáustica, ácido clorídrico, cal virgem etc. O local onde ocorre o processo de lixiviação ou cianetação do ouro é denominado de planta. O processo envolve uma série de técnicas de reações químicas complexas e que por isso exige um rigoroso controle para não pôr em risco a vida dos operadores e, posteriormente, da fauna e flora adjacentes ao local.

Nesta região, o que temos visto é a utilização de métodos parecidos, por pessoas formadas "nas práticas", mas sem nenhum conhecimento técnico do assunto. Ocorre, então, um desperdício de material, a má utilização dos componentes e um perigo real de morte por contaminantes.
Alguns pesquisadores já detectaram que o cianeto, nas suas formas mais estáveis são menos tóxicos ao meio ambiente. No entanto, se não forem tratados de forma conveniente transformam-se em riscos potenciais ao meio ambiente e seu principal  local de deposição final é a água, nas formas superficiais – o que afetaria a fauna e flora aquática – e as águas subterrâneas.



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Bibliografia Consultada:

Caheté, Frederico Luiz S. - A EXTRAÇÃO DO OURO NA AMAZÔNIA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O MEIO AMBIENTE. Disponível em http://www.periodicos.ufpa.br/index.php/ncn/article/view/14/13. Acessado em 07/04/2010.

Souza, L.C.D. et al - CONSEQÜÊNCIAS DA ATIVIDADE GARIMPEIRA NAS MARGENS DO RIO PEIXOTO DE AZEVEDO NO PERÍMETRO URBANO DO MUNICÍPIO DE PEIXOTO DE AZEVEDO – MT. Disponível em http://eduep.uepb.edu.br/rbct/sumarios/pdf/25peixoto.pdf. Acessado em 08/04/2010.

Um comentário:

Unknown disse...

Parabens pelo artigo, Jubal, preciso e objetivo.