2 de abril de 2009

Vaca Bulandeira, uma história

Uma foto histórica de uma das apresentações da Bulandeira. O "doutor" é uma figura impoluta, como diria o Tatá Amaral: trata-se de Antonio Dezincourt, o popular "Rolinha"; o outro personagem em destaque é o "vaqueiro" Sandro "Cacá" Matos, que vem a ser sobrinho do Dr. João Otaviano de Matos Neto.
O Texto é de autoria de Samuel Lima*.


Reza a lenda que ela realmente existiu, nos verdes campos e pastos da Cidade Presépio, Óbidos, onde a família do mestre Ernesto Miguel Bentes Pinto, o Neco, tinha uma fazenda...
De tanto ele contar as “façanhas” da tal Bulandeira a gente resolveu escrever um roteiro e compor canções que satirizassem o “Boi-Bumbá”. À base de muito humor e fina ironia referenciada no contexto político, sócio-econômico e cultural por que passava Santarém, nasceu a “Vaca Bulandeira”.

Corria o ano de 1978, época de Copa do Mundo de futebol (na Argentina), época de arraial de São João e festival folclórico no Colégio Dom Amando.

A crítica à televisão foi um dos pontos marcantes do roteiro, que de maneira geral foi escrito por várias mãos: Álvaro Franco, Neco, Hideraldo Erruas Vasconcelos (o Carecone), Silvio Santos e Samuel Lima. O autor de todas as letras e canções foi o Álvaro Franco. Ele recorda: “A Bulandeira fazia uma crítica geral ao tradicional ‘Boi-Bumbá’, mas partia do seu roteiro original, brincando e fazendo troça com a história de domínio popular”.

Os personagens se repetiam, mas havia gente nova como o “Fittipaldi” (Paulo Lauande), o “Curandeiro” (Walter Pimentel), “Nego Chico” (que era o caçador, interpretado pelo próprio Álvaro), o “Diretor” (o capataz da fazenda, na pele de Corino Guerreiro) entre outros. A Vaca satirizava a equipe Copersucar, da família Fittipaldi, que disputava o mundial de Fórmula 1. Um carrinho de carregar lata d’água virou o “Fumassucar” e ganho um piloto que ia buscar o “doutor-curandeiro” pra ressucitar a vaquinha...

Lembro ainda que a primeira apresentação quase não saiu, tamanho era o acesso de riso que o próprio grupo teve, na antiga Oficina de Artes do CDA, ao se deparar com todas as fantasias prontas: um ria da cara do outro. O Hideraldo de “Catirina”, com traje à caráter, muito batom nos lábios e uma saia da irmã dele ficou simplesmente hilário...

Na platéia desta primeira apresentação, em agosto de 1978, no Festival do Folclore do CDA, estava o temível diretor, Ir. José Ricardo Kisman. Até hoje não sabemos qual foi sua primeira reação, mas lá pelas tantas ele cedeu e ria sem parar das tiradas e improvisos que a Vaca apresentava ao distinto público.

No contexto do CDA, uma figura foi responsável pelo ambiente que gerou a “Bulandeira”: a professora Gersonita Imbiriba, que organizara com colegas de várias turmas para as quais ela lecionava Literatura, um grupo de teatro e outro de sarau. Lembro que uma das peças de maior repercussão foi o “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna. No papel de João Grilo, Nelson “Curica” Campos, hoje professor de educação física, radicado em Jaraguá do Sul (SC). Foi nesse ambiente de experimentações, música, poesia, teatro e arte, de maneira geral, que floresceu a Bulandeira.

Outras gerações de alunos/as do CDA prosseguiram a tradição da Bulandeira.

Há muitas histórias e folclores no entorno da lenda. A Vaca saiu das fronteiras do Tapajós e viajou pelo Amazonas, fazendo apresentações em Monte Alegre, Oriximiná e Óbidos. Numa dessas, o dançarino que levava o boi tinha tomada umas cachaças além da conta e “dormiu”... Quem disse que a Vaca ressusitava?! Após vários esforços do pajé, do padre, do caçador e de todo o grupo, finalmente se descobriu que o cabôco dormia – e foi acordado no pescoção.

Coisas da Bulandeira.

(*) Jornalista santareno, é professor universitário.

Nenhum comentário: