14 de julho de 2006

Clima deverá ajudar a safra 2006/2007

Se depender de fatores climáticos, a nova safra de grãos deve ser colhida num ambiente mais positivo do que nos últimos dois ciclos, afetados por secas prolongadas e veranicos de forte intensidade. Sem a ocorrência significativa dos fenômenos climáticos "El Niño" e "La Niña", o setor agrícola deve viver um nova safra marcada pela normalidade climática, o que significa uma boa novidade num momento de crise de liquidez e de renda dos produtores.
Munido de estudos com séries históricas de 50 anos e de previsões trimestrais para 2006, o diretor do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Antonio Divino Moura, projeta um clima favorável a um "período chuvoso normal" no Centro-Sul do país durante o ano-safra 2006/2007, que começou neste mês. "Devemos ter um 'El Niño' débil, com um aumento máximo de apenas 0,5 grau na temperatura da água", diz. O "El Niño" provoca alterações climáticas e ecológicas ao aquecer de maneira anormal a superfície das águas do Oceano Pacífico na altura da costa do Peru - o "La Niña", ao contrário, resfria as águas.
As previsões utilizadas pelo Inmet indicam que há 40% de probabilidade de chuvas acima do normal no Sul e partes do Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul e sul de Mato Grosso) entre agosto e outubro, período mais importante para o plantio da safra de verão. Pela projeção, há chances reduzidas (25%) de precipitações abaixo do normal nesses casos. A previsão também é mantida para o período entre setembro e novembro. "No Centro-Oeste, apesar das baixas condições de previsibilidade, tudo indica condições normais", diz Divino.
No Nordeste, porém, deve permanecer a tendência de um ciclo de seca, que, segundo estudos recentes ainda em discussão, teria começado em 2004 e que deve estender-se até 2011. "Mas isso só será confirmado no fim do ano, se houver, de fato, um aumento na temperatura no Oceano Atlântico Tropical", explica o diretor. Doutor em Meteorologia pelo norte-americano Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), Divino tem convicção no tema, já que seu pós-doutorado na agência espacial dos Estados Unidos (NASA) ajudou a comprovar a forte influência do Atlântico na origem das secas no Nordeste. "Só conseguimos explicar 21% dessa tendência, mas é um bom indício".
Para avançar na melhoria das previsões climáticas no país e elevar os "acertos" nas previsões, o Inmet anuncia o maior investimento em construção e modernização da rede de estações meteorológicas dos últimos 30 anos. Diretor do respeitado Instituto Internacional de Pesquisa em Previsão de Clima (IRI) da Universidade Columbia, em New York, desde sua fundação (1996), Divino Moura informa que serão gastos R$ 40 milhões no processo de modernização.
Ao custo unitário de US$ 20 mil, foram compradas 395 estações automáticas. Hoje, apenas 70 das 370 estações são automáticas. As primeiras 145 novas já começaram a ser instaladas a partir do Rio Grande do Sul. As demais 250 chegarão ao país em outubro. Amanhã, o ministro da Agricultura, Luis Carlos Guedes, Pinto inaugura um centro de controle para monitorar cada sensor das estações e mantê-las ativas 24 horas por dia.
Básicos em centros mais avançados, os equipamentos ampliarão a precisão da medição. Hoje, os aparelhos do Inmet "sentem" e "medem" os efeitos do clima a cada 25 km, mas de forma manual, como se fazia nos primórdios da ciência. Com o investimento, a precisão sobe a 7 km. "Isso é compatível com os melhores centros", afirma. As novas estações, que medem fatores como chuva, temperatura, umidade, pressão, velocidade do vento e radiação solar, vão aposentar a coleta e o repasse manual dos dados.
Atualmente, as informações são medidas três vezes ao dia e repassadas por telefone. Agora, passarão a ser "lidas" de forma automática a cada hora cheia por um sistema via satélite. Os dados ficarão disponíveis em tempo real na internet. "Vamos aumentar muito a qualidade e a credibilidade das nossas previsões", afirma Divino Moura.

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