Conversas telefônicas interceptadas com ordem judicial revelam como funcionava o esquema de corrupção na Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) para aprovação de planos de manejo durante o governo de Ana Júlia Carepa. As investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) apontam que os envolvidos teriam praticado corrupção ativa e passiva numa organização criminosa que, além de se utilizar de valores obtidos com os ilícitos em suas despesas corriqueiras, ainda tentou esconder os rendimentos desonestos por meio de contas bancárias e bens em nome de terceiros.O processo corre em segredo na Justiça Federal, mas as transcrições das conversas circulam com desenvoltura entre jornalistas. A propina corria solta e generosa. Até vazamento de informações dentro do MPF foi descoberto. O processo já tem mais de 3 mil páginas.
O DIÁRIO teve acesso às conversas, que
envolve servidores da Sema, intermediários, madeireiros, fazendeiros,
autoridades do governo passado e políticos como os deputados federais
eleitos Cláudio Puty (PT), Giovanni Queiroz (PDT), os estaduais Cássio
Andrade (PSB), Bernadette ten Caten (PT) e Gabriel Guerreiro (PV).
O então secretário do órgão, Aníbal
Picanço, de acordo com o relatório da investigação, saiu de uma humilde
casa no bairro do Reduto para ocupar um apartamento no Umarizal avaliado
em R$ 1,5 milhão. O candidato a deputado Sebastião Ferreira, o
“Ferreirinha”, tem seu nome citado em várias conversas. Ele tinha muitos
clientes entre os madeireiros. E muitos pedidos na Sema.
É possível verificar a pressão exercida
para liberação dos projetos sob influência política devido à proximidade
da eleição de outubro passado. Um dos diálogos é entre o ex-secretário
Cláudio Cunha e Gabriel Guerreiro (PV): “Deputado, aquele seu manejo
deve tá saindo já, viu?”. Guerreiro responde: “Tá na sua mão, solte pra
mim hoje”. E Cláudio retorna: “Não, vou soltar agora”. Mais adiante,
fala para um servidor da Sema que vai atender o deputado e “gastar a
tinta dessa caneta com o maior prazer”.
Cássio Andrade, dono de uma empresa que
negocia peixes ornamentais, também telefona e cobra celeridade na
liberação de seu projeto. “São os meus peixinhos...”, resume. É atendido
prontamente. Em outro trecho, Picanço diz para Cláudio Cunha que
Bernadete “tá torrando a paciência” e pergunta se ele está acompanhando
os processos dela. Cunha responde que sim, mas argumenta que os projetos
têm “pendências em Marabá”, que a deputada quer “empurrar goela
abaixo”.
ESQUEMA
No dia 16 de setembro do ano passado,
uma denúncia feita à PF escancarou o esquema. “Venho denunciar uma
quadrilha que há muito tempo está instalada na floresta amazônica,
trata-se de pessoas que uniram-se para confeccionar créditos de madeira
de forma fraudulenta através de projetos de manejos e aprovados em áreas
sem documento e muitas vezes sem nada de mata”.
O denunciante cita que José Vicente
Tozetti e seu filho, Carlos Tozetti, com atuação na Transamazônica,
uniram-se a um advogado conhecido na Grande Belém como doutor Luiz para
influenciar a resolver problemas na Sema e com isso “arrecadar dinheiro
para a campanha do PT, ou seja, de Ana Júlia”. A união teve como base um
ambicioso e audacioso plano de aprovar plano de manejo em uma área que
em sua metade está completamente desmatada e a outra invadida.
“Com muita astúcia e desenvoltura
obtiveram êxito na grande fraude, conseguiram aprovar um plano de manejo
completamente fraudulento, com mais de 70 mil metros cúbicos, avaliado
em R$ 8 milhões”, diz o denunciante. O projeto estava em nome de Isaías
Galvão Bueno. A transação foi tão bem sucedida que um jovem de 24 anos,
José Vicente Alves Tozetti, comprou um avião de marca Corisco. Os
créditos falsos do projeto foram vendidos por um tal de Paulo Sérgio,
conhecido por “Paçoca”.
(Diário do Pará)
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