7 de maio de 2010

Um passivo para as próximas gerações

Antonio Carlos Porto Araujo  

A questão dos resíduos sólidos no Brasil tem sido tema de debates na sociedade, a partir de vários levantamentos da situação atual brasileira e perspectivas para o setor. De uma forma geral, este assunto, principalmente nos últimos anos, permeou por várias áreas do conhecimento, desde o saneamento básico, meio ambiente, inserção social e econômica dos processos de triagem e reciclagem dos materiais, e mais recentemente, ainda de forma incipiente, o aproveitamento energético dos gases provenientes dos aterros sanitários.


Mas os amplos debatem são dilacerados pela cruel realidade de que predominantemente a disposição final de resíduos se dá no lixão, que é uma forma absolutamente inadequada de disposição final de resíduos sólidos, que se caracteriza pela simples descarga sobre o solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública. O mesmo que descarga de resíduos a céu aberto ou vazadouro.


Nos lixões não há controle na entrada dos resíduos, podendo ser lançado qualquer tipo de material, inclusive químicos e infectantes.


Os grandes centros urbanos produzem resíduos com elevados teores de matéria orgânica e o clima tropical e subtropical típico do País fornece condições favoráveis à produção de metano. Além de alto potencial de contribuição para o efeito estufa de aquecimento global, este gás possui propriedades combustíveis.


Em todo País são produzidas mais de 130 mil toneladas diárias de lixo, sendo que 68,5% dos resíduos sólidos das grandes cidades são despejados em lixões e alagados a céu aberto, contaminando as fontes de águas superficiais e subterrâneas, o solo e o ar. Quanto aos resíduos industriais perigosos, estimativas indicam que dos 3,1 milhões de toneladas geradas por ano no País, apenas 650 mil recebem tratamento adequado. Os 78% restantes são despejados indevida e irregularmente em lixões, sem qualquer tratamento preliminar, gerando nesse início de século XXI um passivo ambiental da ordem de R$ 10 bilhões.


Esses dados desencadeiam um grande problema, porque são poucos os municípios no Brasil que dispõe de um aterro sanitário construído segundo normas técnicas recomendadas pelas agencias ambientais. A maioria dos municípios brasileiros utiliza-se de buracos cavados no solo, "lixões", sem qualquer tipo de isolamento, onde os resíduos municipais são jogados. 

Antonio Carlos Porto Araujo é consultor de sustentabilidade da Trevisan.  
antonio.araujo@trevisan.com.br

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