Conheci
o Armando Adhemar Nuñez Miqueiro quando cheguei aqui em Itaituba no ano de 1997, mas já lhe precedia adjetivos elogiosos
(e outros nem tanto) pelo trabalho que desenvolvia na incansável luta para
coibir os desmandos, para que os valores ambientais da região fossem
preservados e tantas outras brigas que ele sempre estava presente, acorrentado
ou não no portão de seu desafeto empresarial preferido: a CELPA, que nos fazia
sofrer três dias sem luz em cada semana, mas a conta sempre vinha salgada.
Quase todas as casas residenciais ou não tinham um gerador de energia próprio
para não deixar o sofrimento do calor e da falta de água aumentar.
Não
fui amigo de estar sentado na varanda de sua casa trocando conversas e uma das
razoes era que eu gostava de cerveja nos fins de semanas (e as vezes no início
e meio) e ele tinha abandonado o gosto pelo paladar alcoólico.
Mas
sempre que nos encontrávamos ele perguntava num tom jocoso como ia os ensaios
de balé, a presença na Palhoça Brasil e outras tantas ironias que ele tirava de
letra. Em determinada ocasião, acho que em 2014, estávamos conversando na SEMMA
e ele contava em alto e bom tom que “tinha acabado de contratar um ponta
direita arisco e valente pro nosso time”; De repente, um repórter local que
estava ouvindo nosso papo, sem saber que era furado, foi perguntar onde
jogávamos, que eram os peladeiros etc. porque seria uma matéria inédita para a
TV. O saudoso Armando não perdeu tempo e escalou o time com algumas
personalidades de Itaituba que há muito tempo nem assistiam futebol pela TV: o
ponta direita era o Pai Velho, na meiúca o Tibiriça Santa Brígida, zagueiros
Wirland Freire, Zezão e Ivo Preto, atacantes principais Silvio Macedo e Zé da
Brahma...e caímos na gargalhada.
Em 2017 passei uma mensagem parabenizando-o pelo aniversário e a resposta foi:
"Muito obrigado, irmão. Os anos vão, as ideias ficam. Sou muito grato a esta terra e as pessoas que aqui vivem. Este ano Deus solicitou a presença no céu do melhor do time (alusão ao Wagner Domingues da Fonseca - Pai Velho) e fiquei sem parceiro. Deus abençoe a todos nós. Forte Abraço."
Todas as vezes que nos encontrávamos o seu semblante fechado resplandecia e a jovialidade transparecia imediatamente. De
outras vezes, quando tinha reuniões a favor ou contra alguma coisa e sentávamos
juntos o moderador já perguntava antecipadamente: “Seu Armando, o senhor
quer comentar?” E é claro que ele sempre colocava seu ponto de vista, fosse
em relação ao meio ambiente, Tapajós ou ao seu prato favorito, a agricultura.
Nos
últimos anos ressentiu-se demais com o fechamento de seu laticínio, com os
produtos Danadinho que pululavam nas prateleiras dos supermercados locais.
Brigou em todas as instâncias para que fosse reaberto, mas não conseguiu.
Foi um
guerreiro e eu sempre o chamava de o Último Tupamaro, numa alusão ao um
grupo de guerrilheiros urbanos uruguaios na década de 1960-1970.
Boa
viagem, Armando!
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