O
congelamento de investimentos bilionários da indústria da mineração no Brasil é
só uma das faces da maior crise institucional que o setor enfrenta em 317 anos
de atividade. Depois de perder para a Austrália o posto de maior exportador
mundial de minério de ferro, o país viu sua participação no mercado global
retroceder a 12,5% do volume da matéria-prima extraída no planeta em 2012,
mesmo nível de meados da década de 1970, mostrando queda de 7,5 pontos
percentuais desde 2000, segundo estudo feito pelo Instituto Brasileiro de
Mineração (IBRAM). A perda de competitividade ficou evidente também no ouro,
segmento em que as reservas brasileiras responderam por apenas 2,55% da
produção no ano passado, ante 4,15% no começo dos anos 80.
Fonte: CorreioBraziliense
O
Brasil também perdeu terreno para alguns de seus concorrentes na extração de
outras 10 substâncias minerais valorizadas no mercado internacional, de acordo
com levantamento, entregue pelo Presidente do Instituto, José Fernando Coura,
quase na forma de apelo, à Ministra-Chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Os
dados são do próprio IBRAM, do Departamento Nacional da Produção Mineral
(DNPM), do serviço geológico americano (USGS) e da consultoria Globe Metals
& Mining.
O
mau desempenho da mineração brasileira, de acordo com Fernando Coura, reflete
os principais obstáculos que o setor está enfrentando em decorrência da
suspensão, há um ano e cinco meses, de autorizações de pesquisa mineral,
alvarás, concessões e transferências de direitos minerários; dos seguidos
adiamentos, que completam quatro anos, da proposição ao Congresso Nacional do
novo marco regulatório no país; e das exigências da legislação ambiental.
“Rico
em recursos minerais e com tecnologia avançada na área, o Brasil está deixando
de ser um player global da mineração”, critica o presidente do IBRAM. Entre
2007 e o ano passado, a Austrália ampliou suas exportações de ferro em 227
milhões de toneladas, enquanto o Brasil não avançou além de um quarto desse volume.
Sem explicações para a suspensão de alvarás e outorgas, as empresas entendem
que a decisão está ligada ao debate complicado do novo marco regulatório do
setor. Como os projetos de lei em análises na Casa Civil propõem grandes
mudanças no atual Código de Mineração, nos procedimentos e nas modalidades de
outorga, teria havido recomendação jurídica para que a emissão dos documentos
fosse suspensa, de modo a evitar a liberação de pedidos que podem não se
enquadrar nas novas normas.
As
empresas alertam, contudo, que as indefinições começam a comprometer
investimentos e geração de empregos. Aportes no valor de R$ 20 bilhões estariam
congelados. Estimativa do IBRAM, com base em dados do DNPM, indica que mais de
5,5 mil requerimentos de pesquisa estão prontos para a outorga do respectivo
direito minerário, mas repousam sobre a mesa do ministro de Minas e Energia,
Edison Lobão. Esse universo já integrava, em junho do ano passado, cerca de 30
mil processos apresentados na sede do órgão em Brasília e nas 25
superintendências, sendo a maioria relativa a áreas localizadas em Minas
Gerais. Naquela data, 55 processos de concessão de lavra aguardavam outorga,
muitos, inclusive, com licença ambiental expedida.
Medida
irracional
São
os casos de pelo menos oito empresas com projetos de exploração, em Minas
Gerais, de minério de ferro, ouro, bauxita, argila e manganês. O estado detém
um terço da produção mineral brasileira. “A suspensão é uma medida irracional,
traz consequências ruins num momento em que o Brasil está crescendo pouco e
afeta toda a cadeia produtiva demandada pelos projetos da mineração, como a
fabricação de máquinas, veículos e eletroeletrônicos, além da construção
civil”, afirma o presidente do IBRAM.
A
posição das mineradoras sobre as mudanças no marco regulatório foi recentemente
confirmada ao governo federal. Fernando Coura diz que o setor já aceita a
elevação das alíquotas dos royalties (a
Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais – Cfem), que os
municípios querem dobrar para o minério de ferro, desde que haja definição
clara sobre o uso desses recursos. O IBRAM concorda também com a instituição de
uma agência reguladora, mas espera que se respeitem os contratos existentes.
O
ponto central de discordância está numa eventual criação de uma participação
especial nos resultados do setor, à semelhança da legislação sobre a exploração
de petróleo, que determina às petroleiras o pagamento de uma compensação à
União em campos de grande rentabilidade. “A nossa expectativa é que o novo
marco regulatório traga segurança jurídica às empresas e atratividade aos
investidores. A participação especial seria um tiro no pé”, afirma Fernando
Coura. Estudo concluído pelo IBRAM destaca que esse instrumento de compensação
não existe nas legislações minerais de 36 países com expressiva produção no
mundo. O Instituto anunciou investimentos previstos, no Brasil, de US$ 75
bilhões até 2016, sendo 40% em Minas Gerais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário