27 de abril de 2010

Os geoglifos do Acre

Do portal Amazônia:
Em fase de tombamento como patrimônio da humanidade, os geoglifos do Acre continuam atraindo a atenção do mundo.  Entre os meses de junho e julho, pesquisadores do Brasil, Estados Unidos, Finlândia e outros países percorrerão o Vale do Acre para aprofundar os estudos na tentativa de desvendar o grande mistério que cerca as estruturas de terra construídas possivelmente entre 700 e 3.000 anos passados.  A palavra geoflifo é a contração de "terra" e "marca" em latim.  As estruturas são marcas na terra, construídas e mantidas ao longo de centenas de anos por uma civilização que, segundo as últimas teorias, passou das 60 mil pessoas.
A finalidade dos geoglifos ainda é uma incógnita.  Mas em artigo, a arqueológa Denise Schaan, do Museu Emílio Goeldi, de Belém, dá uma pista: "a ideia de civilização está ligada a cidades, locais onde existem bairros e diversas áreas comerciais e residenciais.  Os geoglifos tinham sim estradas que os conectavam, revelando uma malha quase urbana de lugares e caminhos.  Ainda assim não poderíamos chamá-los cidades, mas centros de encontro, lugares sagrados onde se reunia uma população bastante grande para a época.  Localizados a meio caminho entre os Andes e a várzea amazônica, os geoglifos sofriam a influência de ambos os ambientes e devem ter sido palco de cerimônias, festas, conflitos e encontros".  Ou seja: as terras distantes dos principais rios e das várzeas serviram também de rotas de povoamento e de implantação de extensos assentamentos.  "Cidades" com intensa atividade agrícola, pessoas interferindo no ambiente ao seu redor, na floresta ou savana, trabalhando de modo cientificamente perfeito na movimentação dos solos e das águas, mantendo sistemas defensivos e práticas religiosas.  Se o ambiente era de hostilidade por questões ideológicas ou mesmo ambientais, a guerra de cacicados e a política de jugo de um povo sobre outro propõem que os geoglifos de forma circular eram preferencialmente fortalezas paliçadas prontas para rechaçar inimigos.  Rodrigo Aguiar, co-autor do livro "Geoglifos da Amazônia - Perspectiva Aérea", aponta o método de trabalho dos construtores de geoglifos: "cortes são escavados, e a terra extraída é, cuidadosamente, depositada ao lado do sulco, formando figuras em alto e baixo relevo".

 

Mesmo prematuras, as pesquisas colocam por terra a tese de que a Amazônia não teria condições de abrigar civilizações mais avançadas.  Os geoglifos mostram exatamente o contrário, ao mesmo tempo que podem estar revelando que nem sempre o ambiente amazônico foi o que se vê hoje.  Os primeiros sítios foram descobertos pelo arqueólogo Ondemar Dias, em 1977.  Hoje, em uma área de mais de 250 quilômetros no Vale do Acre e região Sul do Amazonas foram identificadas dezenas dessas estruturas.
Torres de observação
A preservação dos geoglifos é uma prioridade para o governador Binho Marques, que no último sábado realizou sobrevôo de helicóptero sobre a rota arqueológica do Acre.  Para divulgar e manter os sítios arqueológicos, o Governo do Estado está investindo na prospecção turística.  "Até setembro, teremos uma torre de observação do geoglifo nas terras de Jacob Sá", informou o secretário de Turismo, Cassiano Marques.  A torre na verdade será um centro de visitação, onde o turista receberá todas as informações disponíveis sobre as estruturas e poderá adquirir souvenir como lembrança da passagem pela torre, que terá 23 metros de altura.
Há uma agência de turismo, a Maanaim, que se especializou em realizar voos panorâmicos pelos geoglifos.  Usando aviões como o Minuano, Caravan e Sêneca, a agência leva o turista a um voo de cerca de uma hora de duração até os geoglifos da Estrada de Boca do Acre, Capixaba e região - a rota de maior concentração de sítios.  O voo de uma hora custa R$ 1,5 mil para até cinco pessoas, incluindo o translado hotel-aeroporto.  "Os turistas se mostram muito surpresos", disse João Bosco, que se encontra em Turin, na Itália, divulgando às operadoras locais as rotas turísticas do Acre, incluindo os geoglifos.

Nenhum comentário: