DESLIZAMENTOS E
ENCHENTES
- PARA
QUE EM 2011 AS TRAGÉDIAS NÃO SE REPITAM –
ABMS – Associação
Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
ABGE – Associação
Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
CARTA ABERTA ÀS
AUTORIDADES PÚBLICAS
A perda anual de centenas
de vidas humanas em tragédias geotécnicas recorrentes traz consigo um profundo
sentimento de tristeza e indignação por se constituírem em fatos que poderiam
ser minimizados ou evitados.
Por décadas temos
presenciado um acúmulo de erros e descasos na gestão do crescimento urbano de
nossas cidades com relação às características geológicas e geotécnicas dos
terrenos ocupados. Estes erros estão na origem comum e onipresente dos
deslizamentos e enchentes que vêm crescentemente vitimando a sociedade
brasileira, seja em vidas perdidas, patrimônios destruídos ou transtornos graves
de toda a espécie. Os prejuízos totais à economia privada e aos recursos
públicos são incalculáveis.
Paradoxalmente, o meio
técnico brasileiro já produziu todo um ferramental tecnológico e gerencial que,
se utilizado de forma adequada, evitaria ou reduziria a um mínimo socialmente
aceitável, a freqüência e a dimensão desses desastres. Entre esse ferramental
encontram-se os instrumentos próprios de uma ação preventiva e de planejamento,
destinada a interromper o avassalador fluxo de produção de novas situações de
riscos geotécnicos, bem como aqueles instrumentos mais próprios de ações
imediatas e emergenciais, em uma abordagem de Defesa Civil, destinados à
correção de todo um passivo de riscos já profusamente instalados em grande parte
das cidades brasileiras.
A elaboração de Cartas
Geotécnicas e Cartas de Riscos destacam-se entre esses instrumentos. São
documentos cartográficos indispensáveis a uma correta e eficiente gestão do uso
do solo pelos municípios. A elaboração desses documentos é o passo obrigatório
para que em 2011 já se consiga reduzir substancialmente o caráter trágico desses
acontecimentos.
O contínuo monitoramento
das áreas de risco, a remoção de moradias instáveis, a capacitação de técnicos
municipais e estaduais (ou do poder público de uma forma geral) e o treinamento
das comunidades são atividades que devem ser mantidas o ano todo, e não apenas
nas épocas de chuvas e emergências.
Para tanto, urge que haja
agilidade na decisão das autoridades públicas federais, estaduais e municipais,
responsáveis pela provisão dos recursos necessários e pela contratação dos
referidos serviços. A elaboração desses documentos cartográficos e de
monitoramento demanda alguns meses de trabalho de equipes multidisciplinares,
mas seria possível que no início do próximo semestre os municípios mais críticos
já tenham esses instrumentos de gestão disponíveis, de modo que as medidas de
antecipação ao próximo período chuvoso possam ser implementadas eficientemente.
A ausência destes instrumentos faz com que hoje grande parte do esforço e dos
recursos despendidos concentre-se nas ações imediatas e emergenciais de
atendimento pós-desastre, sobrecarregando os órgãos da Defesa Civil. A prevenção
é possível, eficiente e mais barata que a remediação.
A ABMS e a ABGE,
entidades representativas dos engenheiros geotécnicos e dos geólogos de
engenharia brasileiros, colocam-se inteiramente à disposição das autoridades
públicas brasileiras para apoio à implementação das providências
indicadas.
Jarbas Milititsky
Fernando F.
Kertzman
Presidente da ABMS
Presidente da ABGE
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