Texto de Paulo Paixão
Li e reli sobre Auschwitz
E minha mente nada entendeu
E meu coração se chocou.
Será possível, meu Deus,
que tudo isso aconteceu
Há, apenas, sessenta e
cinco anos passados?
Na minha estrada só diviso o
horizonte escarlate,
E o campo infindo apinhado
de flores.
Deparo com a fome e com a
morte natural
Enfim, entendo que sou
humano,
E então, caminho sobre os
rastros do
Bem, procurando livrar-me do mal.
Mas, horrores, nunca os
vi...
Somente os li nos livros.
Tu Polônia permitiste em
teu solo
De progresso e trabalho de
mãos calejadas
Um campo não de capim verde
e de flores silvestres,
Mas um campo de cinismo, de
ironia ao seres
Humanos do mundo todo!
Campo de horrores e de
vergonha.
Onde se exterminaram sem dó
nem pena
Crianças, mulheres, velhos,
homens maduros, doentes
E vigorosos jovens sob a
desculpa sórdida
De “limpeza étnica”.
Um milhão e cem mil pessoas
dizimadas,
Primeiro decorrente de
prisão, fome, exaustão
E maus tratos,
Depois, a aniquilação em
massa...
Auschwitz, serpente
venenosa, mas dissimuladora,
No teu portal estava
escrito: Arbeit macht frei ou
“o trabalho liberta” ou
ainda lebensunwertes leben
“vida indigna de viver”.
Quanto cinismo meu Deus!
Treblinka quanto me enojoo
de ti...
Serpente maldita,
plantastes flores, pintastes as plataformas
Em cores vivas e colocastes
placas indicando a chegada e partida
De trens, como se fora,
realmente, uma estação de trem...
E tuas câmaras de gás em salas de banho...
Convidavas os
recém-chegados para o necessário banho...
Despidos, os desvalidos,
calmos e silenciosos entravam
Na sala de banho.
Esperava-os as garras
cruéis e terríveis da morte!
Adolf Hitler, Heinrich
Himmler, Josef Mengele, “o anjo da morte”,
Rudolf Hoss,
Almas perdidas que
perambulam sem-destino pelas trilhas
Escuras da eternidade
negra, que Deus tão-somente retire
A nódoa maligna que
enegrece seus corações para que
Tenham a possibilidade de
sentir o sentimento
Do arrependimento, da
compaixão
E assim verterem rios perenes de lágrimas
E reparem o mal que
causaram a tantas pessoas!
Auschwitz, tuas estruturas
continuam presas ao chão
Polonês assim como o
palacete de Wannsee ao entorno
Do lago de mesmo nome,
sarcásticos testemunhos de um tempo
Triste e sombrio que
envergonha a história humana.
O Santo Padre percorreu
teus cômodos num silêncio inefável.
Rezou, rezou em silêncio...
Os gritos, as dores, as
lágrimas, o desespero, as desesperanças
Se foram tragados pelo fogo
dos fornos crematórios, pela
Asfixia provocada pelo
zyclon B ou pelos experimentos médicos
Frios, cruéis e letais.
Ficaram as tristes lamentações dos anjos,
Um silêncio cosmo absoluto,
A velada conivência dos
homens, das instituições mundiais,
E a pergunta: por que os
ingleses não bombardearam
As linhas de trens que
davam acesso aos campos?
Ou à administração dos
próprios campos?
Na minha estrada o vento
varre o chão de barro,
As flores o margeiam belas e
perfumadas e
A vida continua dura, mas,
boa de se viver porque
Deus o quer assim, ainda
que inconformado
E triste por Auschwitz...
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