4 de abril de 2010

Depois do holocausto, o silêncio...

Texto de Paulo Paixão
Li e reli sobre Auschwitz
E minha mente nada entendeu
E meu coração se chocou.
Será possível, meu Deus, que tudo isso aconteceu
Há, apenas, sessenta e cinco anos passados?

Na minha estrada só diviso o horizonte escarlate,
E o campo infindo apinhado de flores.
Deparo com a fome e com a morte natural
Enfim, entendo que sou humano,
E então, caminho sobre os rastros do
Bem, procurando livrar-me do mal.
Mas, horrores, nunca os vi...
Somente os li nos livros.

Tu Polônia permitiste em teu solo
De progresso e trabalho de mãos calejadas
Um campo não de capim verde e de flores silvestres,
Mas um campo de cinismo, de ironia ao seres
Humanos do mundo todo!

Campo de horrores e de vergonha.
Onde se exterminaram sem dó nem pena
Crianças, mulheres, velhos, homens maduros, doentes
E vigorosos jovens sob a desculpa sórdida
De “limpeza étnica”.

Um milhão e cem mil pessoas dizimadas,
Primeiro decorrente de prisão, fome, exaustão
E maus tratos,
Depois, a aniquilação em massa... 

Auschwitz, serpente venenosa, mas dissimuladora,
No teu portal estava escrito: Arbeit macht frei ou
“o trabalho liberta” ou ainda lebensunwertes leben
“vida indigna de viver”. Quanto cinismo meu Deus!
Treblinka quanto me enojoo de ti...
Serpente maldita, plantastes flores, pintastes as plataformas
Em cores vivas e colocastes placas indicando a chegada e partida
De trens, como se fora, realmente, uma estação de trem...
E tuas câmaras de gás em salas de banho...
Convidavas os recém-chegados para o necessário banho...
Despidos, os desvalidos, calmos e silenciosos entravam
Na sala de banho.
Esperava-os as garras cruéis e terríveis da morte!

Adolf Hitler, Heinrich Himmler, Josef Mengele, “o anjo da morte”,
Rudolf Hoss,                                                                                                                        
Almas perdidas que perambulam sem-destino pelas trilhas
Escuras da eternidade negra, que Deus tão-somente retire
A nódoa maligna que enegrece seus corações para que
Tenham a possibilidade de sentir o sentimento
Do arrependimento, da compaixão
E assim verterem rios perenes de lágrimas
E reparem o mal que causaram a tantas pessoas!

Auschwitz, tuas estruturas continuam presas ao chão
Polonês assim como o palacete de Wannsee ao entorno
Do lago de mesmo nome, sarcásticos testemunhos de um tempo
Triste e sombrio que envergonha a história humana.
O Santo Padre percorreu teus cômodos num silêncio inefável.
Rezou, rezou em silêncio...
Os gritos, as dores, as lágrimas, o desespero, as desesperanças
Se foram tragados pelo fogo dos fornos crematórios, pela
Asfixia provocada pelo zyclon B ou pelos experimentos médicos
Frios, cruéis e letais.

Ficaram as tristes lamentações dos anjos,
Um silêncio cosmo absoluto,
A velada conivência dos homens, das instituições mundiais,
E a pergunta: por que os ingleses não bombardearam
As linhas de trens que davam acesso aos campos? 
Ou à administração dos próprios campos?

Na minha estrada o vento varre o chão de barro,
As flores o margeiam belas e perfumadas e
A vida continua dura, mas, boa de se viver porque
Deus o quer assim, ainda que inconformado
E triste por Auschwitz...

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