Os brasileiros poderão contar, na sua dieta alimentar, com mais um produto, cujo valor nutricional foi enriquecido por pesquisadores da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Trata-se da mandioca Jari, que está sendo lançada nesta semana durante a 3ª Reunião Anual da Biofortificação no Brasil, que ocorre até sexta-feira (5) em Aracaju.A pesquisadora Marília Nutti, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, coordenadora do projeto de biofortificação no país (Biofort), informou que foram cruzadas variedades de mandioca, também conhecida como aipim e macaxeira, até obter mais pró-vitamina A, que é o betacaroteno. Esse antioxidante ativo é um precursor da vitamina A e está presente em diversas frutas e legumes, como a cenoura.
A falta de vitamina A no organismo causa problemas de visão e anemia, que afetam mais de 2 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). “Então, se a gente tiver, em vez da mandioca branca, a mandioca amarelinha, ela vai estar nos ajudando, suprindo a deficiência de vitamina A”.
O trabalho de melhoramento que resultou na mandioca Jari foi voltado, principalmente, às crianças e às classes menos favorecidas, que não têm acesso a frutas e verduras, ricas em carotenóides e betacaroteno. Durante o encontro em Aracaju, será lançada também uma cartilha sobre cultivo e consumo de batata doce.
“O nosso projeto trabalha na tentativa de ter os alimentos básicos com maiores teores de pró-vitamina A, ferro e zinco. A gente conseguiu chegar a uma batata doce bem laranja, quase cor de abóbora, com altos teores de pró-vitamina A”.
A cartilha será distribuída ao público infantil. Por meio das crianças, o objetivo é chegar aos pais, principalmente o pequeno produtor, ensinando como plantar essa batata doce. “E a criança vai poder explicar porque ela é importante, em uma linguagem bem acessível”.
Os pesquisadores do projeto Biofort se dedicam também a estudos para enriquecimento do feijão, arroz trigo, milho, abóbora e feijão-caupi (xique-xique). No caso do feijão, eles já obtiveram maiores quantidades de ferro e zinco. “A meta é melhorar a saúde e não somente a desnutrição. A nossa meta é, principalmente, o que a gente chama de “fome oculta”, que é a deficiência de micronutrientes. E melhorando essa deficiência, haverá um impacto na desnutrição também”, disse Nutti.
O Biofort faz parte de um projeto global, já que a falta de ferro que causa anemia, a falta de vitamina A que causa cegueira são problemas mundiais. O Brasil trabalha em rede com outros países, pesquisando determinados cultivos para ir aumentando a qualidade nutricional.
Embora os técnicos da Embrapa já estejam chegando a variedades melhoradas, Marília Nutti esclareceu que o projeto nacional ainda deverá se estender por um período de cinco a dez anos. A variedade de mandioca, por exemplo, que será lançada na reunião em Sergipe ainda é intermediária. “Porque a gente chegou a nove microgramas por grama de betacaroteno, mas o nosso alvo é chegar a 15”.
No Brasil, a equipe é formada por 150 pesquisadores de 11 unidades da Embrapa, além de universidades e institutos de pesquisa. Países da América Latina, África e Ásia também estão envolvidos no projeto de biofortificação de alimentos. Em cada um deles são pesquisados cultivares próprios.
No México e na Guatemala, por exemplo, o milho é o cultivo mais importante. “O projeto tem que se adequar aos hábitos alimentares dos países”, explicou Marília Nutti.
Matéria de Alana Gandra, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 02/06/2008.
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