1 de março de 2009

Cidadania Planetária

Este artigo, publicado no portal Faça a sua parte, de autoria de Ricardo Ribeiro é o post da semana para o Agonia.

Em busca da Cidadania planetária: irresponsabilidade evitável, responsabilidade inevitável

Por que o ambiente fica sempre em segundo plano nas plataformas políticas?

Principalmente em período de eleição, os candidato fogem dos ambientalistas como o diabo foge da cruz. Dizem que "meio ambiente não dá voto". Poucos são os corajosos que arriscam-se a realmente propor ações em prol do desenvolvimento ambientamente sustentável.

Pronto, está exposta a dialética ambiente versus desenvolvimento.

Construir isso, ampliar aquilo - desenvolver, no sentido de políticas públicas - foi sempre considerado como sinônimos para melhor qualidade de vida da população. Isso se deve ao fato de que, com obras de infraestrutura e com desenvolvimento industrial, é possível facilmente gerar emprego e renda nas localidades mais "atrasadas" o que diretamente afeta a qualidade do meio ambiente. Naturalmente, a reação dos ambientalistas é de dificultar esse processo, resultando na tradicional denominação de inimigos do desenvolvimento.
Assim temos PAC disso, PAC daquilo, e a eterna briga entre a Casa Civil ou o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o solitário ministro (ou ministra) do meio ambiente - por um lado, sem contar com a guerra que se trava entre governo (sempre na direção errada) e sociedade civil (sempre a paladina da justiça).

Problema: o modelo de desenvolvimento que é largamente defendido desde o inicio do processo de urbanização, este que sempre significou crescimento econômico aliado à ampliação da infraestrutura urbana das cidades. Apesar de o modelo de associar a qualidade de vida ao acesso às cidades estar assumindo - ainda que lentamente - a compreensão de que a esse crescimento econômico acelerado soma-se o uso também acelerado dos recursos naturais, a falta de informação torna insipiente o movimento de recusar o desenvolvimento a qualquer custo - considerado desde os anos 70 como contracultura (lembram-se dos "hippies"?).

.Fala-se muito em desenvolvimento sustentável, mas na prática é pouco aplicado, pois para isso seria necessário um crescimento controlado, que não convém a este modelo desenvolvimentista - lembrando que é desta forma de produzir e consumir que depende a nossa qualidade de vida.

Solução: aliar o discurso do desenvolvimento com o da proteção ambiental. os ambientalistas já têm suas respostas, desenvolvidas através de seus modelos socioambientais, sustentáveis e de garantia do equilíbrio ecológico; há mais de trinta anos têm-se discutido novos modelos de desenvolvimento; diversos documentos foram assinados estabelecendo compromissos dos países com relação à conservação. De forma geral, há consenso no meio ambiental sobre o que deve ser feito. Mas na hora das decisões, a inércia do poder público se fixa em construir estradas, investir na agricultura extensiva, na industria poluidora, no desenvolvimento dos parques tecnológicos para gerar emprego e melhorar a economia facilitando o aumento da produção.

Infelizmente, propagar o atual modelo de desenvolvimento que exaure os recursos naturais do planeta atrai mais a atenção e apoio da população. "Vitória" da população, que recebe acesso ao urbano; "vitória" dos políticos, que recebem seus votos. E, no final, perdemos todos.

Este cenário é apenas um reflexo de um modelo político mundial ainda embasado na defesa de interesses fragmentados em setores, em detrimento do interesse comum. São estudantes, metroviários, bancários, engenheiros, médicos, músicos, empresários, sem-terras e...ambientalistas: cada um defendendo para si uma parte do bolo do poder, estabelecendo seus argumentos de que seu setor é um dos mais importantes para o desenvolvimento do país. Essa fragmentação se reflete nos políticos, que buscam representar um desses setores - quando muito - e não conseguem atingir um consenso ao bem comum tanto almejado.

Do mesmo modo, países disputam entre si o direito de poluir mais, comprando créditos ambientais de outros como se isso diminuísse o impacto da poluição.

Assim, meio ambiente (e educação, cultura, saúde) que deveria ser de interesse comum e consenso de todos, passa a ser tema de disputa política onde cada lado quer impor sua forma de resolver o problema, que de tão complexo acaba por não ser resolvido de forma nenhuma e é empurrado de um lado para o outro como problema de ninguém.

E continuamos perdendo.

Todas essas perspectivas levam a seguinte conclusão: sabe-se da necessidade de mudar esse modelo, mas esse processo passa necessariamente por uma mudança interna nos valores da sociedade, na visão estabelecida de qualidade de vida e desenvolvimento. A sociedade mostra aos políticos o que é realmente importante ser defendido e propagado: ambiente e desenvolvimento, não ambiente x desenvolvimento. Não pode haver antagonismo num contexto de necessidade comum, assim como não pode haver interesses pessoais em detrimento do interesses de todos.

Esse é contexto da cidadania planetária: estabelecer a idéia de cooperação e co-responsabilidade para um futuro comum.

Isso significa questionar: qual o modelo de indústria que utilizamos? E de agricultura? Como podemos adaptar esses modelos tradicionais ao contexto de desequilíbrio ambiental vivido atualmente? É pela busca destes novos modelos que o movimento ambientalista direciona seus esforços.

É claro que, aparentemente, se coloca contra o modelo desenvolvimento vigente - é o trabalho de quem tem que reduzir o ritmo da destruição e ao mesmo tempo encontrar alternativas em tempo hábil. Mas, em essência, a luta não é contra do desenvolvimento, é contra a ignorância que perdura em considerar a questão ambiental como um setor separado - propriamente um obstáculo - e não como a base que sustenta o todo. Em analogia com o corpo humano: que capacidade social, econômica e política pode ser desenvolvida se este corpo não for mantido alimentado e descansado? Desta mesma forma nenhuma sociedade pode desenvolver-se sem considerar a sua sustentabilidade ambiental. É como esgotar todos os alimentos disponíveis e começar a comer a própria carne...
Ano que vem será novamente um ano eleitoral, e podemos todos começar a fazer a nossa parte: cobrar de nossos candidatos como aliar desenvolvimento com sustentabilidade sem hipocrisia. Este será o momento em que as plataformas ambientais passarão a ser obrigatórias e servirão como base a todo e qualquer desenvolvimento - pondo fim a essa irresponsabilidade evitável.


E por esse processo de mudança de visão somos todos - inevitavelmente - responsáveis.



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