15 de dezembro de 2008

Cínico do Ano

Esta vem de "O Escriba".

Crise e cinismo


Cínico: um malandro cuja visão deficiente lhe apresenta as coisas como elas são, não como deviam ser. (Ambrose Bierce)

A crise econômica que vai arrasando quarteirão por onde passa gerou uma onda de solidariedade e responsabilidade em muitas pessoas, que começam a repensar como produzem, consomem, gastam. Mas também revela o lado mais torpe de tantos outros - e pior, justamente daqueles que têm o poder de mudar o estado das coisas.

Na disputa pra ver quem é mais cínico, vejo três bons concorrentes.

Um deles é Roger Agnelli, presidente da Vale, uma das maiores e mais lucrativas empresas do mundo, que tem faturamento anual superior a US$ 30 bilhões. Em tempos de cintos apertados, era de supor que Agnelli fosse propor uma produção mais inteligente, sustentável, humana. Mas em vez disso quer suspensão temporária dos direitos trabalhistas!! Genial, não?

Mas os chefões das três principais empresas automobilísticas americanas - Ford, GM e Chrysler - não ficam atrás. Nas negociações para obter o empréstimo bilionário para salvar suas peles, os abriram mão de seus altos salários e planejam cortar milhares de empregos mundo afora. Mudar o escopo do negócio para torná-lo mais sustentável? Ah, aí já é demais, né?

Os senadores americanos também estão na briga. Para aprovar o empréstimo à indústria de carros, pedem como garantia a redução de custos - eufemismo para demissão em massa, cortes de direitos trabalhistas e afins. Nada, como bem observou Michael Moore, de exigir que as empresas fabriquem carros mais eficientes, baratos, econômicos e limpos. Ou que retirem as ações judiciais contra estados americanos que exigem que os carros não poluam tanto e respeitem as leis ambientais. Ou ainda que foquem seu negócio no transporte público, não no individual.

É, a disputa pelo troféu Cínico do Ano está acirrada.


Por aqui, em quem você votaria no cínico do ano?

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