7 de junho de 2005

O DIABO ÀS QUEDAS

Coloquei este título na matéria escrita por Elias Ribeiro Pinto, que traduz muito apropriadamente como anda o Partido dos Trabalhadores no Brasil. Aqui no Pará, os deputados estaduais e vereadores do PT tentam transferir a atuação pífia que estão tendo nas suas respectivas Casas Legislativas para a atuação pior ainda do PSDB e outros partidos de bases aliadas (se aliado for isto que está sendo demonstrado no Brasil é melhor ser inimigo declarado). Esta matéria vale a pena ser lida:

Pacto com o diabo
Jesus, depois de obrigado a jejuar durante 40 dias no deserto, recusou o pacto que lhe foi proposto pelo diabo. Pelo acordo, depois de o Coisa Ruim revelar a extensão de seu poder na terra, disse que o repassaria ao filho do Homem. Em troca, pedia apenas que fosse reconhecido como mestre. Mas Jesus respondeu que não queria esse poder, pois só desejava servir a Deus, e seu reino não é deste mundo.
Muito tempo depois, já no século XV, o diabo nem se deu ao trabalho de vir pessoalmente. Mandou o secretário, um enviado, apresentar um novo pacto a um homem ambicioso e orgulhoso, chamado Johann Fausto. Mefistófeles (o nome do enviado das profundezas do inferno) disse que estava autorizado a conceder todo o saber do mundo. Em troca, passados 24 anos, Johann se entregaria, de corpo e alma, ao capiroto. Fausto, como já dissemos, um homem ambicioso, estudioso de teologia e medicina, obcecado pelo desejo de conhecimento e de novas descobertas, aceita o pacto demoníaco. De fato, ele desfrutou de um saber infinito, cercado de admiração. Mas, à medida que se aproximava o acerto de contas, clamava aos céus para que o demônio o esquecesse.
Como o diabo tem excelente memória e a burocracia infernal em ordem, isso não ocorreu. No dia em que o contrato se expirava, veio buscar Fausto, que lançava em vão gritos de horror. Essa lenda medieval, sabemos, alimentou duas obras-primas da literatura: o Fausto, de Goethe, e o Doutor Fausto, de Thomas Mann.
Dizem que houve um terceiro pactuário com o demônio, mas vou pular logo para o mais recente, por termos o privilégio, ou a danação, de dele sermos testemunha. Desta vez, quem vendeu a alma ao diabo, em troca da conquista do poder e de sua manutenção, foi o PT. No entanto, diferentemente do prazo de 24 anos concedido ao doutor Fausto, o diabo, já menos paciente, ou favorecido pela ambição do Partido (dito) dos Trabalhadores, veio cobrar sua dívida bem antes que a primeira parcela do exercício do poder – os quatro primeiros anos do mandato presidencial (a reeleição estava incluída numa das cláusulas do contrato) – se cumprisse.
Sinceramente, nunca assisti a uma descida tão vertiginosa de um partido político às profundezas infernais do mundo político, principalmente se levarmos em consideração que ele sempre se apresentou como o escudeiro da ética, quando não incorporava a própria ética. Aliás, dias atrás, aqui mesmo, escrevi que o PT e seus comissários haviam mergulhado na parte mais abismal do Inferno de A Divina Comédia de Dante, o nono círculo, onde são punidas as faltas mais graves, as dos fraudulentos em quem se confia: os traidores dos parentes, os traidores da pátria, os traidores dos benfeitores. Lembrei que, abaixo do nono círculo, só resta o anjo rebelde Lúcifer. Confinado, ele devora eternamente Judas, o traidor de Cristo, e Bruto e Cássio, os traidores de Júlio César, o fundador do Império Romano.
Não venham me dizer que o mundo da política é assim mesmo. Não é para os de alma delicada, certamente. Mas nele também forjam-se homens notáveis, que não precisam ser Cristo para recusar o pacto com o diabo.
Penso no que pensam as “bases petistas” de tudo isso. Os amigos petistas (e aí, companheiro Jorge?) com os quais tanto dialoguei, debati, mas sempre tendo em vista que o PT era um partido “diferenciado”, como dizem os comentaristas esportivos de um craque do futebol. Diferenciado, sei... Só se for para pior.
E não pensem que penso que o PSDB nos redimirá. De FHC, para mim, não sobrou nem o pé na cozinha. Entre nós, o tucanato de Almir Gabriel era só bico e nada mais.
Simão Jatene é refém de sua própria veemência, tão duradoura quanto uma bolha de chope, digo, de sabão. A Justiça se incumbirá de dizer, ainda que politicamente, se seu governo é ou não é uma fraude.
Acredito na democracia. Para honrá-la, precisamos de uma nova geração de políticos (mas não necessariamente), modernos, no sentido capazes de, prefeito, pensar a cidade, planejá-la, assessorar-se, sempre que possível, dos melhores; governador, pensar o Estado, idem, idem. E em vez de firmar um pacto com o diabo para chegar e se manter no poder, o melhor caminho, ensina a democracia, é pactuar com o povo.
Ah, se o diabo não veio em pessoa (e enxofre) para assinar o pacto com o PT, quem será o Mefistófeles?


E-mail: eliaspintopa@uol.com.br

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