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13 de março de 2009

Certo ou Errado?

O governo brasileiro está se preparando para expulsar entidades não-governamentais internacionais que sejam consideradas uma ameaça à segurança nacional e vai restringir o acesso de estrangeiros a propriedades na Amazônia.

As ONGs estrangeiras tiveram que fornecer ao governo, até o início de fevereiro, detalhes de suas operações e efetuar seus registros junto a autoridades, incluindo a Polícia Federal. Apenas 90 entre centenas de entidades estrangeiras cumpriram as exigências.

O governo acusa alguns grupos de espionagem industrial, de prejudicar a cultura dos índios nativos e de biopirataria - roubo de plantas medicinais para uso farmacêutico.

Êles não estão nem aí pras ordens do governo brasileiro. Quero ver se vai pra frente esta ação.

15 de fevereiro de 2008

Segrêdo de Estado

O mercadinho La Palma, a casa de carnes Reisman, a loja de vinhos Wine Company, a peixaria Golfinho e a padaria Cirandinha de Brasília são detentoras de informações que, se divulgadas, ameaçam o Brasil.
Houve um tempo em que os militares achavam que risco à segurança nacional era tudo que fosse contra o regime. Hoje, segurança nacional é invocada para encobrir extravagâncias da Presidência.
Nunca se saberá no Brasil, pelo visto, o que é realmente segurança nacional.
A Amazônia devastada, a violência urbana, a persistência do analfabetismo que ainda hoje flagela três milhões de jovens, a ocupação de parte do território do Rio pelo tráfico de drogas, nada disso ameaça a pátria brasileira.
Os que exercem o poder têm interpretações exóticas sobre o tema. No passado, achavam que a ameaça vinha do pensamento divergente. Era uma idéia absurda. Hoje acham que ameaçador é informar os gastos com cartões feitos pelos funcionários que servem ao presidente da República e a seus filhos. E a interpretação é um escárnio.
Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, autor do saudoso "Festival de Besteiras que Assola o País — Febeapá", não teria muito trabalho no Brasil de hoje para encontrar as sandices políticas que alimentavam seu humor. Bastaria conferir, por exemplo, o que disse o Planalto sobre os R$ 205 mil gastos por três funcionários em guloseimas e bebidas caras para alimentar o presidente e seus convidados, nos momentos não previstos nas compras normais da cozinha presidencial.
Segundo o Planalto, a divulgação dessas informações "pode facilitar atos de terrorismo".
Pede-se à ministra Marta Suplicy que vá ao Planalto e repita ao Gabinete de Segurança Institucional e à Casa Civil, responsáveis por essa interpretação, o que ela disse na Europa, quando se falou que no Brasil havia muita violência e por isso não era um país seguro."Pelo menos lá não tem terrorismo", gabou-se.
Talvez a ministra tenha relaxado um pouco prematuramente. A convicção da Presidência é que, se, um ano depois, os gastos com comes e bebes presidenciais forem divulgados, se saberá "quantas pessoas estão envolvidas", e isso é que facilitaria os atos de terrorismo.
Ameaça também a segurança nacional saber que um dos seguranças de Lurian, a filha do presidente, gastou R$ 55 mil em cartões, uma média de R$ 6 mil por mês.
A Presidência está sob constante risco e ameaça.
Dos quase R$ 5 milhões gastos pela Presidência em cartões corporativos em 2006, só R$ 100 mil tinham nota fiscal porque o resto, segundo o Planalto informou ao Tribunal de Contas da União, era de despesas cuja divulgação ameaça a segurança nacional.
Mas podem os brasileiros dormir tranqüilos porque todas essas ameaças estarão conjuradas, em breve, pelos nossos bravos defensores da segurança nacional. O Gabinete de Segurança Institucional já informou que a divulgação dos gastos pelo portal Transparência foi uma "transgressão" e que os "responsáveis pela divulgação responderão a processos administrativos".
A assessoria de imprensa do Planalto também já avisou que não comentará os gastos do funcionário de Lurian, porque não comenta nada que ameace a segurança do presidente e de sua família.
Quando estourou o escândalo da ex-ministra Matilde Ribeiro, o governo anunciou que, em resposta, aumentaria o uso dos cartões, mas limitando os saques em dinheiro vivo, que, só no ano passado, foram de R$ 44 milhões, feitos pelos que usam o cartão de crédito pago com o dinheiro dos contribuintes. O ministro da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, afirmou que o risco era o uso do cartão para fraudar a Lei de Licitações. Mais uma das suas costumeiras confusões de interpretação.
O pior problema, que, até agora, ninguém do governo deu mostras de ter entendido, é o abusivo desrespeito ao limite entre o público e o privado.
O mesmo desrespeito que se viu em outros flagrantes deste governo, como o do episódio em que um filho do presidente convidou os amigos para, a bordo de um avião da FAB, irem para Brasília, onde usaram o Palácio da Alvorada como colônia de férias. Na época, a imprensa perguntou se realmente havia sido usado o avião da Força Aérea Brasileira para transportar os jovens em seus folguedos de férias, e o Planalto se negou a dar a informação.
Mas os próprios jovens, ao divulgarem na internet a foto de todos ao lado do avião, deixaram claro o flagrante de uso privado de recursos públicos.
Matilde, quando admitiu apenas "um erro administrativo", mostrou que também não entendeu o que há de errado em usar o cartão pago pelos contribuintes até em dias de folga.
Os gastos com cartão corporativo estão tendo um aumento explosivo — 800% nos últimos cinco anos, chegando a R$ 75 milhões — e o governo quer ampliá-los. A divulgação dos gastos feitos por funcionários da Presidência foi considerada um atentado à segurança nacional, e os responsáveis serão punidos. O erro não foi o gasto; o erro foi divulgá-lo.
E o portal Transparência fica assim avisado de que a máxima de Delúbio Soares — "transparência demais é burrice" — impregnou todo o governo".

Miriam Leitão