O PT nasceu de cesariana, há 29 anos. O
pai foi o movimento sindical, e a mãe, a Igreja Católica, através das
Comunidades Eclesiásticas de Base. Os orgulhosos padrinhos foram,
primeiro, o general Golbery do Couto e Silva, que viu dar certo seu
projeto de dividir a oposição brasileira.
Da árvore frondosa do MDB nasceram o
PMDB, o PDT, o PTB e o PT... Foi um dos únicos projetos bem-sucedidos do
desastrado estrategista que foi o general Golbery.
Outros orgulhosos padrinhos foram os
intelectuais, basicamente paulistas e cariocas, felizes de poder
participar do crescimento e um partido puro, nascido na mais nobre das
classes sociais, segundo eles: o proletariado.
O PT cresceu como criança mimada,
manhosa, voluntariosa e birrenta. Não gostava do capitalismo, preferia o
socialismo. Era revolucionário. Dizia que não queria chegar ao poder,
mas denunciar os erros das elites brasileiras.
O PT lançava e elegia candidatos, mas
não "dançava conforme a música". Não fazia acordos, não participava de
coalizões, não gostava de alianças. Era uma gente pura, ética, que não
se misturava com picaretas.
O PT entrou na juventude como muitos outros jovens: mimado, chato e brigando com o mundo adulto.
Mas nos Estados, o partido começava a ganhar prefeituras e governos,
fruto de alianças, conversas e conchavos. E assim os petistas passaram a
se relacionar com empresários, empreiteiros, banqueiros.
Tudo muito chique, conforme o figurino.
E em 2002 o PT ingressou finalmente na maioridade. Ganhou a
presidência da República. Para isso, teve que se livrar de antigos
companheiros, amizades problemáticas. Teve que abrir mão de convicções,
amigos de fé, irmãos camaradas.
A primeira desilusão se deu entre intelectuais. Gente da mais alta
estirpe, como Francisco de Oliveira, Leandro Konder e Carlos Nelson
Coutinho se afastou do partido, seguida de um grupo liderado por Plinio de Arruda Sampaio Junior.
Em seguida, foi a vez da esquerda. A expulsão de Heloisa Helena em
2004 levou junto Luciana Genro e Chico Alencar, entre outros, que
fundaram o PSOL.
Os militantes ligados a Igreja Católica também começaram a se
afastar, primeiro aqueles ligados ao deputado Chico Alencar, em seguida,
Frei Betto.
E agora, bem mais recentemente, o senador Flávio Arns, de fortíssimas ligações familiares com a Igreja Católica.
Os ambientalistas, por sua vez, começam a se retirar a partir do desligamento da senadora Marina Silva do partido.
Afinal, quem do grupo fundador ficará no PT? Os sindicalistas.
Por isso é que se diz que o PT está cada vez mais parecido com o velho PTB de antes de 64.
Controlado pelos pelegos, todos aboletados nos ministérios, nas
diretorias e nos conselhos das estatais, sempre nas proximidades do
presidente da República.
Recebendo polpudos salários, mantendo relações delicadas com o empresariado. Cavando benefícios para os seus. Aliando-se
ao coronelismo mais arcaico, o novo PT não vai desaparecer, porque está
fortemente enraizado na administração pública dos estados e municípios.
Além do governo federal, naturalmente. É o triunfo da pelegada.
Lucia Hippolito |
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