A Geologia é o estudo austero do esqueleto da paisagem. (...)
As excursões do geólogo são as únicas que merecem este nome: excursus, caminhada além do tempo e do espaço atual.(...)
Ao ver a montanha, o geólogo pensa no mar do qual ela saiu; ao ver o mar, pensa que nele estão depositadas as montanhas do futuro. (...)
A profissão do geólogo só pode ser exercida apaixonadamente. O geólogo deve ter da Terra, da Geografia Física planetária, um conhecimento aprofundado que exige uma longa e afetuosa familiaridade. Jamais será geólogo quem não tiver perscrutado longamente, nos mapas, os contornos de todos os continentes, as saliências e falhas de todas as costas, as sinuosidades de todos os rios, impostas pelo relevo; o que não haja tentado explicar a forma de cada lago e sobretudo o traçado das cadeias de montanhas. (...)
O verdadeiro geólogo não apenas conhece os fósseis, como também os ama. Ama-os com um amor pudico e incompreendido, gerado paulatinamente pela presença na mente, até às raias da obsessão, do modesto e indispensável testemunho daquilo que era, aqui e outrora, o conhecimento biológico deste ser que, para nós, não está realmente morto.(...)
Com a mochila às costas, o martelo na mão, caminha, caminha toda a vida, sobre as cristas, na concavidade dos vales, com o olhar fixo na rocha, onde espera aparecer o indício que procura. (...)
O verdadeiro geólogo deve ter pulmões infatigáveis, pernas de alpinista e, às vezes, ombros que quisera fossem de ferro, porque a pedra é pesada e deve ser estudada no laboratório.
Mas a fé que remove montanhas, a paixão que o anima, é capaz de sublimar a fadiga e a esperança dos descobrimentos faz que sempre parta de novo, infatigável, rumo à sua maravilhosa aventura.
Charles Combaluzier
(Tradução: Pércio de Moraes Branco)
O caso é que, nós os geólogos, nos isolamos em uma redoma e não deixamos muita gente entrar nela.
Quantos dentre todos mostra para seus filhos, parentes e amigos o que significa a geologia para o dia a dia do mais comum dos mortais? O que tem, relativo à minérios, numa casa, um carro, um utensílio doméstico...
Eu - falando por mim - nunca quis que um parente seguisse meus passos. Talvez porque tenha atravessado um período tenebroso na mineação brasileira. Talvez porque não pretendesse ter concorrentes (sic).
Nos casos mais simples, sempre que festejamos o Dia do Geólogo, só fazemos festas para nós mesmos.
Nunca pensamos em promover um painel sobre a "Geologia do Dia a Dia" ou "Geologia para Leigos", onde pudéssemos mostrar e ensinar qual é o papel da geologia nos campos de pesquisa médica, terraplanagem, sondagens, fundações, petróleo, ouro, água, etc.
Quantas vezes em Belém foi feito um painel deste tipo?
E no interior?
Apagar a imagem de aventureiro ou andarilho mineral tem que ser nosso objetivo.
Ser geólogo, atualmente é muito mais que isso.
E todos nós sabemos disso.
Uma vez tentei - no blog - chamar uns colegas para escrever sobre temas de relevância (pelo menos pra nós que moramos em Itaituba e região) como ouro, água, materiais de construção in natura, mas não deram atenção. E é assim que nos mostramos: acima dos mais comuns. Pode ser verdade, mas precisamos descer do pedestal e nos misturarmos com os comuns para sermos comuns.
Será que não dispomos de tempo para isso?
Ou será que temos vergonha de mostrar a nossa importância atual, passada e futura?
Um comentário:
caro amigo que a vida fez atravessar meu caminho
lendo isso tive consciencia de minha pequinez e descobri porque sou tão ruim geológo.
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