O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), que já se dispôs a ser o maior financiador da
hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu, em Altamira (PA), será
advertido da co-responsabilidade pelos impactos da obra, que assumirá
com a efetivação do empréstimo.
Nesta quarta-feira (24/3), os movimentos
sociais de Altamira, com apoio de organizações nacionais, entregam ao
BNDES uma notificação extrajudicial que adverte o banco sobre a
fragilidade da licença ambiental expedida pelo Ibama. De acordo com o
instrumento jurídico, a licença não oferece nenhuma garantia de que a
obra é viável do ponto de vista socioambiental, uma vez que a avaliação
técnica do órgão, que afirmou que “não há elementos suficientes para
atestar a viabilidade ambiental do empreendimento”, foi desconsiderada
no ato do licenciamento. Nesse sentido, o financiamento pelo banco
seria ilegal, e se a obra vier a ser construída, ele será, de acordo
com a legislação brasileira, responsabilizado pelos prejuízos
socioambientais que não foram previstos.
Segundo a notificação,
se os eventos danosos anunciados nos pareceres técnicos do Ibama vierem
efetivamente a ocorrer, o BNDES seria passível de ser cobrado por
todos os custos decorrentes dos impactos sobre a fauna, flora e pessoas
da região, quaisquer que sejam os seus valores, e inclusive aqueles
que são impossíveis de se valorar.
A notificação também aponta que, como gestor
de recursos públicos, e comprometido, conforme seu estatuto social, a
realizar “exame técnico e econômico-financeiro de empreendimento,
projeto ou plano de negócio, incluindo a avaliação de suas implicações
sociais e ambientais” para aprovar qualquer transação financeira, o
BNDES tem o dever de considerar todas as variáveis que envolvem a obra.
.
Impactos de Belo Monte
A notificação destaca o
atropelo com que o Ibama concedeu a licença prévia de Belo Monte,
desconsiderando as observações da equipe que fez o Parecer Técnico
06/2010, que não aceitava a solução proposta para alguns dos impactos
socioambientais que afetarão a região.
Um dos importantes impactos que não foi
considerado diz respeito à qualidade da água. Estudo realizado por
especialistas da Universidade de Brasília (UnB), a pedido do Ibama, e
entregue poucos dias antes da emissão da licença, afirma que a
modelagem utilizada no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é equivocada e
insuficiente para fazer prognósticos futuros de como ficará a
qualidade da água. Afirma também que, ao contrário do que diz o estudo
elaborado pela Eletrobrás, é alta a probabilidade de que a água ao
longo de 144 km do rio Xingu fique “podre” (eutrofizada) e abaixo dos
parâmetros mínimos exigidos pela Resolução 357 do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (Conama), o que deveria impedir a expedição da licença.
Outro ponto importante
diz respeito aos impactos na região da Volta Grande do rio Xingu, um
trecho de mais de 100 km de rio, onde moram centenas de famílias, e que
viverá uma “eterna seca” caso a obra seja construída, pois grande
parte da água do rio será desviada para os canais a serem construídos. O
problema é que a licença contrariou a decisão da equipe técnica do
Ibama, que afirma que a quantidade de água que a Eletrobrás propõe
liberar para esse trecho – e que foi aceita pela diretoria do órgão - é
insuficiente para manter o modo de vida dessas pessoas, pois, com as
alterações profundas no ciclo natural, não haveria mais como pescar ou
navegar.
Além do BNDES, todos os demais financiadores também deverão ser
notificados.
O ato
Nesta quarta-feira, 24, às 11 h, integrantes
de movimentos sociais e ONGs, além de representantes das populações
indígenas e ribeirinhas de Altamira, realizam uma manifestação criativa
em frente à sede do BNDES, para acompanhar a entrega da notificação à
direção do banco.
Local:
Rua República do Chile, 100, no centro do Rio de Janeiro
Mais informações:Renata Pinheiro, Movimento Xingu Vivo para
Sempre – (21) 8782-3443
Raul do Valle, Instituto Socioambiental (ISA) - (61) 8155-7492
João Roberto Lopes, Plataforma BNDES – (21) 8648-1511
Roland Widmer – Programa Ecofinanças/Amigos da Terra Amazônia Brasileira - (11) 7457-7035
Raul do Valle, Instituto Socioambiental (ISA) - (61) 8155-7492
João Roberto Lopes, Plataforma BNDES – (21) 8648-1511
Roland Widmer – Programa Ecofinanças/Amigos da Terra Amazônia Brasileira - (11) 7457-7035
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