16 de setembro de 2009

O PASSIVO DA PROVÍNCIA AURÍFERA DO TAPAJÓS

Este artigo foi escrito para o Jornal do Comércio e publicado em 14/09/2009:


A exploração aurífera no Vale do Tapajós já dura mais de 50 anos.
Neste longo tempo, varias fortunas foram formadas e outras tantas se esvaíram. Muitas daquelas que se acabaram foi pelo pensamento de que “o barranco deu 50 quilos de ouro” e nada mais. Quem tirava o ouro não se preocupava em saber o custo de exploração do metal. Caiam, literalmente, nas mãos de pessoas inescrupulosas que lhes tiravam de noite aquilo que haviam conseguido na labuta do dia a dia.
As que foram formadas se estabilizaram pela visão do empreendedor em aplicar em outro bem mais, digamos assim, realista. Assim, alguns compraram fazendas e aplicaram o dinheiro que sobrava nelas. Ou em imóveis longe daqui.
A exploração aurífera durante estes longos anos deixou um considerável passivo ambiental e social que traz conseqüências a todos os que vivem neste longo território. Não só aqui em Itaituba, mas nos municípios circunvizinhos, que também usufruíram das fortunas e desventuras aqui formadas.
O passivo ambiental está sendo mostrado, principalmente, pelos sedimentos em suspensão, que transformaram as cores das águas límpidas dos rios regionais em barrentas; nos focos de malária, formados por poças e lagoas abandonados; por uma quantidade incrível de mercúrio lançado na natureza; pela quantidade de óleos e graxos lançados nos rios, entre outros tantos malefícios.
O passivo social está concentrado, principalmente, na cidade de Itaituba, quando a maioria dos garimpeiros desiludidos veio se abrigar e tentar a sorte em outros ramos menos rentáveis, na periferia. Muitos se transformaram em invasores profissionais de terras particulares e públicas. Isto antes que uma leva de criminosos, sob a proteção de “poderosos” transformassem este lado em uma “terra da lei do pistoleiro”, que felizmente foi desarticulada.
Mesmo assim, ainda há uma intensa atividade garimpeira na região e não tem previsão de que ela vá se acabar. A não ser que os órgãos de fiscalização resolvam encarar o problema e promover um reordenamento no processo de garimpagem. Mas isso é outra conversa para a qual os garimpeiros têm que estar preparados: os órgãos responsáveis pelas licenças minerárias e ambientais se digladiam e não resolvem absolutamente nada.
A meu ver, somente uma intervenção pública poderá trazer um ordenamento mínero-ambiental na Província Aurífera do Tapajós, fazendo com que os mineradores artesanais (garimpeiros) possam continuar trabalhando se causar danos maiores ao meio ambiente (e sem que a atividade seja suspensa para “consertar” o passivo ambiental), além de afastar o típico investidor-predador e as empresas de mineração, que fazem pesados investimentos em pesquisa e aumentam a atividade comercial na região.
E para isso tem que intensificar esta união entre os comerciantes, os mineradores artesanais (garimpeiros), as empresas de mineração e os órgãos fiscalizadores da atividade. Cada um atuando com sinceridade e eficiência, além de não desiludir o outro.

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