7 de agosto de 2009

O bife com licença ambiental e trabalhista

Thiago Cid e Alexandre Mansur

Os grandes supermercados prometem não comprar de fazendas que desmatam.

Vai dar certo?





Está cada vez mais difícil consumir um bom bife inocentemente.

Primeiro, foi o patrulhamento da saúde, que associou a carne vermelha bovina ao consumo excessivo de gorduras e hormônios, potencialmente perigosos ao organismo.

Agora vem uma onda ambiental, que mostra como a pecuária brasileira, principalmente na Amazônia, está ligada a práticas como o desmatamento ilegal e a invasão de terras públicas.

Nas últimas semanas, reagindo à pressão de consumidores e investidores, grandes varejistas decretaram medidas para restringir a compra de carne de frigoríficos em áreas suspeitas e melhorar o rastreamento do produto. O Carrefour, o Wal-Mart e o Pão de Açúcar detalharam um sistema de auditoria independente para garantir que a carne que compram não venha de regiões de desmatamento. A Nike anunciou que suspendeu a compra de couro da Amazônia. E o Ministério da Agricultura anunciou um plano ambicioso para regularizar o setor da pecuária. Essas medidas vão funcionar?
Regularizar a pecuária ilegal ou clandestina é um passo importante para o Brasil. O setor de criação de gado é considerado estratégico para o governo e já é o principal agente do mercado mundial de carne. Mas a atividade também está ligada às principais atrocidades ambientais no norte do país. Não só o desmatamento (a pecuária é responsável por 80% do problema na Floresta Amazônica), como também a exploração de trabalhadores. Cerca de 60% das fazendas autuadas por trabalho análogo à escravidão eram voltadas à pecuária. Todos os anos, cerca de 17 milhões de cabeças de gado são abatidas sem qualquer fiscalização. Isso quer dizer que um terço dos 50 milhões de cabeças abatidas por ano não tem certificação sanitária nem definição de origem e pode vir de áreas de floresta desmatada.

Em um país com dimensões continentais e um rebanho de aproximadamente 200 milhões de animais, a fiscalização não é fácil. Tanto que o esforço para combater esses crimes é feito há décadas e o resultado até o momento foi pífio. A diferença é que, agora, a demanda vem dos grandes compradores, e não só do governo.

Um terço dos 50 milhões de bois abatidos por ano no Brasil não tem fiscalização
Por isso, o cerco nunca foi tão fechado.


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