No final de 2007, todos foram pegos de surpresa com o anúncio da retirada de 41 blocos marítimos da nona rodada de leilões da ANP. Ainda não se sabia, mas o que estava por trás desta decisão do governo federal era a descoberta do grande potencial das reservas da Bacia de Santos. A partir daí, aguardou-se com alta expectativa o que a região do pré-sal poderia trazer para o Brasil. Principalmente quando, em 2008, o preço do barril passou a rondar US$ 145 e já se imaginava o país em um novo patamar econômico dentro de algumas décadas. Todas as expectativas, no entanto, foram postas à prova no final do ano passado com a explosão da crise econômica.
Hoje, mais brando o vento que varreu o mercado global nos últimos meses (a ponto de levar a cotação do barril a 30-40 dólares), faz-se necessário trazer à tona esta pergunta: o interesse nas reservas da Bacia de Santos aumentou ou diminuiu?
Para responder essa pergunta, nosso primeiro passo foi retornar aos fatores que, no meio do ano passado, levaram o barril a irreais 145 dólares. Como já havíamos analisado no artigo "Desconstruindo o barril de petróleo", tais fatores podem ser definidos nestes termos: 1. Especulação financeira 2. Desvalorização do dólar 3. Consumo elevado 4. Questões geopolíticas 5. Queda das reservas 6. Subsídio aos derivados.
Observando com cuidado, podemos notar que o cenário, embora tenha sofrido um forte impacto com a crise, não chegou a passar por uma reviravolta. Embora os valores envolvidos sejam consideravelmente mais baixos, nenhum desses seis fatores sofreu grande alteração, e a cotação já começa uma nova escalada (no final de maio, mês em que passou por um crescimento de quase 30%, o preço do barril fechou em US$ 66 e agora em junho já esbarra nos US$ 70,00).
O componente mais nebuloso, e também de maior importância, é justamente a especulação. Assim como influenciou decisivamente para que o barril chegasse a 145 dólares - e posteriormente também no contra-choque - hoje ela também deve ser assumida em toda a sua dimensão. Os especuladores estão vivos e, segundo a lógica, nada mais natural do que agora eles desejarem um novo aumento.
A situação do dólar continua delicada. A moeda continua em desvalorização frente ao euro e às moedas asiáticas (assim como frente ao Real) e não apresenta sinais concretos de que vá restabelecer-se com força suficiente para derrubar as cotações.
Com a crise, pode-se dizer que o consumo é, dentre todos os fatores que compõe a cotação, aquele que sofreu maiores transformações. Em contrapartida, sua tendência conforme o ambiente de crise for se dissipando é apenas aumentar. Os países asiáticos já dão sinais de que serão os primeiros a se levantar e o investimento no petróleo parece estar em seus primeiros planos, uma vez que o consumo esperado na região não é compatível nem com as reservas (no seu caso mais grave China e Índia), nem com a produção e até mesmo com a capacidade de refino, tome-se com exemplo o Japão.
A questão geopolítica, que parecia destinada a sofrer grandes transformações com o governo Barack Obama, não vem seguindo exatamente este caminho. Mesmo com sua postura conciliatória, o presidente americano ainda não foi capaz de refrear o comportamento belicoso do Irã, e a organização terrorista Al-Qaeda já se manifestou contrária a qualquer interesse de paz manifestado pelos EUA.
O potencial das reservas é outro fator que não se alterou muito. Com o barril a 145 dólares, o Canadá já projetava um alto lucro com seu petróleo, e parecia inevitável que os americanos recorressem ao petróleo do Alasca; agora, tanto o alto custo de prospecção no Canadá quanto os ativistas ambientais nos EUA conseguiram equilibrar as forças na briga, e mais uma vez temos um mundo girando em torno da mesma escassez de reservas.
Como se pode constatar, as mudanças não são tão sensíveis quanto aparentavam a princípio. As reservas da Bacia de Santos, se não gerarão o mesmo lucro, caso o barril do petróleo não venha subir aos mesmos patamares ou até mais elevados do passado rescentes podem por outro lado assumir um papel estratégico ainda mais importante no atual cenário.
As dúvidas persistem, mas cada vez o país se vê em frente de uma responsabilidade maior em relação as novas reservas. pois sabemos que com o barril do petróleo a US$ 70, cerca de 95% dos projetos se tornam viáveis.
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