26 de maio de 2008

Florestas: até quando haverá uma?

Este post faz parte do ciclo Debates Ambientais do Faça a Sua Parte.

















O primeiro passo foi descer das árvores e habitar em cavernas. Depois de um longo tempo, aprendemos a construir casas. À medida que a população aumentava, aumentava o número de casas e se formaram as vilas e cidades. Para dar espaço às cidades que cresciam, as florestas foram asfaltadas, ligando cidades, vilas e zonas industriais. O retorno tornou-se impossível: não há cavernas suficientes e as árvores não oferecem o conforto a que estamos habituados. A convivência entre seres humanos e o verde das florestas parece ter se tornado um dilema: um dos dois deve diminuir para que o outro possa expandir-se. A natureza tem se ocupado em mandar-nos algumas calamidades que dizimam parte da espécie humana; os seres humanos também colaboram para a auto-destruição com a má alimentação que provoca doenças e embalagens que duram anos, trânsito assassino, criminalidade e guerras. Apesar dos esforços das duas partes, a população continua crescendo. Já há quem espera por uma hecatombe ou pela terceira guerra mundial para resolver - temporariamente - o problema. Há soluções? O dilema realmente existe? A convivência é realmente impossível?

Falar em controle da natalidade é comprar uma briga muito grande, mas algo precisa ser feito, ou o cimento também acabará. Enquanto soluções não despontam, podemos ao menos aumentar o número de árvores e preservar as que já existem. E não me refiro somente à Amazônia ou ao pouco que sobrou da Mata Atlântica. A China, por exemplo, tornou-se o maior exportador mundial de madeira; boa parte colhida ilegalmente das florestas russas. Também a Finlândia tem sido acusada de utilizar madeira das florestas primárias escandinavas e o reflorestamento de que tanto se ouve falar é basicamente de pinus, madeira utilizada ostensivamente no comércio que tem a vantagem de haver um crescimento rápido. Com a destruição da flora original perde-se, também, a fauna e a população nativa. De fato, nos 5% de florestas primárias escandinavas que restam, expreme-se a última grande população indígena europeia, os Sami. O resto do norte europeu não se encontra em situação diferente, assim como o Canadá com enormes problemas de desmatamento. Tentei informar-me sobre uma lei que transitava no congresso russo alguns anos atrás, a qual permitia o uso das florestas para projetos comerciais e de lazer (?), mas a busca obteve um resultado desestimulante. Somente 10% do desmatamento na Rússia é causado pelo comércio de madeira. O restante acontece em função dos projetos comerciais e para extração de petróleo e minérios. O problema é sempre de ordem econômica e política. Por que a imprensa internacional aponta o dedo para a Amazônia, toda vez que fala em preservação das florestas?

Recentemente, lendo uma matéria do Pedro Dória, não pude deixar de concordar quando ele fala sobre a falta de um projeto para a Amazônia. Mas por que ninguém fala, também, do Canadá, da Rússia, dos países europeus e da China, com seus desertos que crescem em ritmo jamais vistos? Não que os problemas alheios minimizem os nossos, mas não podemos nos sentir como os únicos vilões nessa história. O que você, leitor indignado com o problema da Amazônia, sabe sobre o que vem ocorrendo nos outros países?

A proposta, pois, seria de mudar o foco do discurso. Invés de falarmos de desmatamento e do fim das florestas, passássemos a falar, debater e promover o reflorestamento. O problema já existe e somos conscientes dele. Tratemos agora das soluções.

E por que não reunir todas as informações disponíveis sobre reflorestamento? A partir desse banco de dados que seria constantemente atualizado, procurar envolver o maior número de entidades para um projeto maior, que seria por em prática uma política de reflorestamento.

Se quisermos sair da esfera da utopia devemos fazer algo para mudar a situação. Algo como iniciar um projeto popular e buscar envolver todos os órgãos e entidades possíveis, para lançar uma campanha de reflorestamento. Associações de bairro, ONGs, prefeituras, escolas, universidades, pessoas famosas, os governos estaduais e o Governo Federal, a ONU, enfim, todos que pudermos atingir e estipular, digamos, o ano de 2012, como o Ano do Reflorestamento. Até lá, estudos, pesquisas, projetos e compromissos seriam elaborados.

Também parecia um sonho quando, em 1861, D. Pedro II decidiu mudar o panorama do Rio de Janeiro, que enfrentava o problema da falta d'água causado pela devastação das florestas que circundavam a cidade, para uso da madeira e para o plantio. Hoje a Floresta da Tijuca é a maior floresta artificial do mundo e a maior em área urbana. Também parecia um sonho a diminuição da poluição de Cubatão, conhecida nas décadas de 70 e 80 como a região mais poluída do mundo. Hoje Cubatão é sinônimo de recuperação de áreas poluidas. E o que dizer do projeto da Universidade Federal de Santa Catarina, que desenvolve tecnologia para recuperação de florestas degradadas? Quantos outros projetos e exemplos existem sem que se fale deles? O problema é que, isoladas, essas ações não causam o impacto que merecem.

A esse ponto deve haver alguém balançando a cabeça enquanto avalia a minha ingenuidade. Pois bem, todas as ações humanas contra ou a favor da natureza tiveram um início. Pode-se escolher entre ficar observando de camarote os acontecimentos ou fazer parte deles. Não é necessário ter que escolher entre desenvolvimento e preservação, como bem esclarece esta entrevista com o economista Lester Brown, fundador da ONG Worldwatch Institute e do instituto de pesquisas Earth Policy.

A convivência entre seres humanos e o verde das florestas não precisa continuar um dilema, mas cabe a nós mudar a situação. Sugestões, participação, idéias e propostas serão bem aceitas. As críticas, também.

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