30 de maio de 2008

Aquecimento global: mito ou verdade?

Esse texto faz parte dos "Debates Ambientais do Faça a sua parte".


Muito se fala hoje do efeito estufa.
Vozes contraditórias que refletem muitas vezes o quanto a informação e a desinformação andam juntas, por culpa da influencia dos interesses. Lendo aqui e ali pode parecer que o efeito estufa seja um vilão misterioso que vai nos destruir, ou de outro lado, algo inofensivo e sem conseqüências. Pois não é nem uma coisa nem outra. O efeito estufa é um dos responsáveis pela existência da vida na terra com sua ação reguladora do calor que nos chega do sol e é natural. Existe há milênios. Mas porque se chama efeito estufa?
Porque as estufas, aquelas casas feitas de vidro feitas para se conservar plantas durante o período frio, se utilizam do mesmo processo que ocorre na atmosfera.
Na terra chegam mais ou menos 1366 watt de energia por metro quadrado proveniente do sol. Isso na parte alta da atmosfera. Toda essa energia vem na forma de ondas eletromagnéticas, na verdade um espectro constituído de ondas com praticamente todos os comprimentos de ondas possíveis. A atmosfera, feita de camadas com densidades e composições diferentes, deixa passar apenas parte da radiação, ou seja as ondas mais longas que penetram e chegam até o solo, enquanto que as ondas mais curtas são refletidas e se disperdem. Uma dessas ondas é a chamada infravermelho que transporta nada mais nada menos que calor. Pois bem, uma parte de tudo o que chega ao solo é absorvida, entre elas o calor e outra parte volta ao alto, refletida. A parte refletida no entanto já tem muito menos energia e as ondas são sempre as mais longas. Quando atingem camadas da atmosferas que tem a capacidade de refleti-las de novo, praticamente quase nada consegue atravessar essa barreira. Em outras palavras, o calor do sol atravessa a atmosfera, aquece a terra e parte desse calor quando está voltando pra cima, encontra uma camada que o retêm. Essa camada no caso da estufa é o vidro, no caso da atmosfera é a dos gases estufa. Tudo isso simplificando muito, mas é mais ou menos assim.
Se não existisse esse fenômeno a temperatura média seria tremendamente menor e o planeta seria uma enorme bola congelada. A temperatura média de todo o planeta é de mais ou menos 15 graus e sem o efeito estufa, seria de 20 graus negativos. O efeito estufa garante uma média de temperatura que permite que exista água em estado liquido e de conseqüência, garante simplesmente a vida na terra. Porém, dentro de parâmetros tao estreitos e em um equilibro tão precário que pequenas variações no sistema, comportam em enormes mudanças.
Uma dessas variações é a da quantidade dos gases estufa presentes na atmosfera. Mas quais são esses gases? Os principais são vapor de água, gás carbônico, o oxido nitroso, hidrofluorocarbonetos e o metano. Todos esses gases são presentes na atmosfera em uma determinada concentração. Medições feitas nos últimos cem anos, detectaram um aumento de presença de todos estes gases. Analogamente, a esse aumento correspondeu um aumento da temperatura média do planeta, conseqüência logica em função do processo descrito acima.
O metano é liberado por animais, aos quais nos incluímos. Se levarmos em conta que somos já quase 7 bilhões e que ainda criamos inúmeros animais que superam esse número, fica fácil avaliar, ainda que intuitivamente, o quanto aumentou a emissão desse gás nos últimos anos. Outro dos grandes responsáveis pelo aumento da temperatura é o gás carbônico.
O CO2 é presente na atmosfera em uma concentração de mais ou menos 0,03%, que varia de acordo com o período do ano em mais ou menos 5 partes por milhão. Parecem números ínfimos. Mas considere-se que o limite aceitável para um local de trabalho é de 0,05% e que com 0,4% já se corre risco para a saúde, começa-se a entender como nosso corpo e nosso planeta são sensíveis a esse gás. Considere-se também o seguinte: com 5% de gás carbônico no ar a morte é certa e que o ar que sai de nossas narinas contém 4,5% do mesmo.
Sim, nós também somos fábricas de CO2, assim como todos os animais que respiram, além de ser produzido em toda e qualquer combustão. E disso, combustão, é o que não falta em nosso mundo moderno. Quantos são os fogões, as indústrias, automóveis, queimadas, caminhões, trens, cigarros, aviões, navios e churrasqueiras emitindo CO2 nesse momento?
Teríamos uma bela esperança de resolução desse quadro, visto que as plantas são gulosas de gás carbônico e o absorvem. Mas o triste de tudo isso é que ao mesmo tempo que aumenta a produção, elimina-se sempre mais as áreas cobertas de verde, diminuindo com isso a absorção. Um movimento com mesma direção mas sentidos divergentes. Um desastre.
Segundo estudos, a concentração de Co2 na atmosfera aumentou de 35 % desde a revolução industrial e uma grande parte desse aumento é muito recente, coisa dos últimos 50 anos. Essa elevação sempre maior corresponde em igual trend de aumento, à temperatura media global.
O problema, é que isso não é uma prova cientifica. Nos estudos climáticos globais, uma das maiores dificuldades é determinar uma certeza cientifica, pela complexidade e magnitude do material de laboratório, no caso todo o planeta terra. Mas as evidências baseadas nos dados disponíveis nos aproximam tanto da certeza, que não são outra coisa além de ridículas as tentativas dos poderes fortes e dos interesses econômicos em criar com a contra-informação um pseudo movimento que questiona a origem antropica desses eventos.O problema do aquecimento que estamos assistindo não é o aumento da temperatura em si, mas sim a velocidade com que o fenômeno está se produzindo. Mudanças climáticas sempre ocorreram e ocorrerão, porém o metabolismo planetário é ritmado aos milhões de anos, enquanto que nossa atividade produziu em menos de 200 anos, o que os sistemas teriam levado milênios para se adaptar. Dentro desse sistema, estamos também nós. Teremos que enfrentar notáveis esforços de adaptação de agora em diante. Mas temos muitos problemas adjuntivos a resolver.
Porque as medidas para se minimizar o problema são até que simples na sua essência. Teríamos que simplesmente reduzir drasticamente o crescimento da população, deixar de produzir e consumir de acordo com os padrões atuais, eliminar a pobreza e também a riqueza e a especulação, mudar todos os sistemas de produção de energia baseados em queima de hidrocarbonetos e... vamos ver... recuperar ao menos 50 por cento das florestas originais destruídas. Uf, foi bem fácil escrever a frase com as soluções. Mas ela contém um mundo em uma dimensão paralela à nossa. Um mundo utópico, impossível e mágico. Tristemente mágico pela distancia que nos separa dele.
Uma das primeiras tentativas de se limitar os danos, foi o protocolo de Kioto, onde vários países se comprometeram a reduzir suas emissões de gases estufa na atmosfera. Mas é pouco. Até porque o acordo não contou com a adesão dos EUA, um dos maiores responsáveis por emissões. Alegaram que existem estudos que poe em dúvida a atividade humana como causa do aumento desses gases e a relação deles com o aumento de temperatura. Mais tarde, como esse argumento era facilmente destrutível, mudaram registro e aí a alegação foi de que a economia americana não estaria pronta a uma transição para a baixa emissão.
Além disso, o protocolo isentou dois dos outros maiores países, as superpovoadas China e Índia, como uma moratória para que se adequassem sem comprometimento de suas economias. Nesse caso a medida causou o efeito contrário que se pretendia. Como esses países estavam, vamos dizer, liberados, muitos dos países que assinaram o protocolo transferiram para lá suas atividades produtoras de gases estufa, medida que livra a cara de quem fez pose de bonzinho e ainda por cima aumenta ainda mais o problema.
Em 2005, esses países, EUA, China, Índia e mais Coreia do Sul e Austrália, que juntos representam 40% de todo o Co2 que vai pra atmosfera, assinaram em Camberra um pacto alternativo ao protocolo de Kioto, prevendo a limitação das emissões a partir do desenvolvimento de novas tecnologias e formas de energia a impacto zero.
Como se vê, aquilo que a comunidade cientifica reputa como uma emergência, considerando que já passamos da linha de retorno, tem como respostas praticas apenas um conjunto de intenções a longo prazo e ainda assim, sem muito consenso ou boa vontade.
Nós como espécie superamos inúmeros períodos difíceis. Soubemos nos adaptar a infindáveis mudanças e cataclismos. Saberemos também reordenar nossa vida, quem sabe plantando cana na Sibéria e na Patagônia e povoando a Groenlândia. Mas o que nos move a clamar por ações mais concretas é a consciência do preço que se pagará por isso. O maior deles é o sofrimento de inteiras populações, a morte de milhões pela fome que já aumenta, pela falta de agua, pelas enchentes ou outros fenômenos e mesmo pelas guerras, que parece são inevitáveis em períodos de escassez. Sofrimento, dor e desespero que não podem fazer parte do horizonte de quem sabe o quanto nos deu a natureza e do quanto brutalmente inútil, alucinado, injusto e pernicioso é esse desprezo que alimentamos pela nossa mãe.

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