5 de abril de 2008

É Contrabando?

O DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral) enviou em 03/04 ao Ministério das Relações Exteriores um ofício pedindo providências para a repatriação do fóssil de pterossauro (réptil alado pré-histórico) do Ceará à venda por US$ 700 mil num site americano.
A notícia de que o crânio do animal está à venda tem corrido entre os paleontólogos e foi divulgada pela Folha no último domingo (30/3). Especialistas ouvidos pelo jornal afirmaram que o espécime saiu ilegalmente do Brasil, que proíbe a exportação de fósseis desde 1942.
O dono do site na internet PaleoDirect.com, John McNamara, diz que o fóssil foi comprado de uma coleção alemã muito antiga e que ele fora coletado na chapada do Araripe (CE) na década de 1930 -portanto, antes da proibição legal.
McNamara afirmou que "nada do que foi escrito na imprensa brasileira pode ser provado e é pura heresia". A Folha errou ao afirmar no título e no primeiro parágrafo da reportagem de domingo que o fóssil "certamente" havia saído ilegalmente do país sem atribuir a informação aos especialistas consultados.
No entanto, o entendimento do DNPM é que o exemplar saiu clandestinamente. "Não houve anuência do DNPM para a saída, então nós consideramos que ela foi ilegal", afirmou o diretor de Fiscalização do órgão, Walter Arcoverde. "Se a coleta aconteceu antes [da proibição], deve haver documentos que atestem isso e que poderão ser mostrados."
McNamara afirmou ter comprado o fóssil numa exibição nos EUA no ano passado. Disse que ele pertencia à coleção de um alemão, já morto.
Segundo ele, o espécime não estava preparado (as impressões dos ossos não estavam ainda separadas da rocha) e achava-se que se tratasse de um peixe. "Não tenho o nome da pessoa [que vendeu], porque eu o encontrei no dia da exposição e só fiz aquela transação com ele; não era um vendedor [de fósseis], estava lá ajudando um amigo. A julgar pela idade do material e pela falta de conhecimento do vendedor, não tenho por que duvidar de que estivesse dizendo a verdade."
Quatro paleontólogos especialistas em fósseis do Araripe ouvidos pela Folha acham improvável que a coleta tenha acontecido antes da década de 1940. Foi só então que o potencial fossilífero da região passou a ser conhecido -embora coletas esporádicas fossem feitas desde o começo do século 20.
A primeira autorização de extração comercial de calcário foi dada em 1968. É sobretudo durante a extração de calcário nas pedreiras que os fósseis aparecem. "É surreal a explicação de que esse fóssil tenha sido coletado há tanto tempo", diz Alexander Kellner, do Museu Nacional, maior autoridade do mundo em pterossauros da chapada do Araripe.

Folha de SP, 4/4

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