No começo costumava, com grande frequencia tomar um gole de minha cachacinha todos os dias. Tornou-se um hábito salutar e, discordantemente, um vício incurável por um longo tempo.
A cada vez que me deliciava com um gole daquele elixir sentia-me mágico.
De repente, contra a vontade tive que me afastar deste copo por alguns dias. Foi uma angústia terrível que enfrentei. Teimava em ficar lembrando, com saudade, daquele copo e sentia falta ardorosa de sua maciez, de seu sabor. Como doía a sua ausência!
De repente retornei ao copo e à cachaça.
Mas não demonstrei o entusiasmo peculiar daqueles que retornam ao prazer de um sabor.
E o copo, que vivia cheio começou a esvaziar e não enchia mais com a mesma vontade, nem reclamava da ausência. Fui ficando, mesmo de perto, ausente.
Comecei a me aborrecer comigo mesmo e descontava na cachaça, maltratando-a sem dar a atenção devida, sem me saciar com seu sabor diferente, sem demonstrar o prazer que a mesma me fazia sentir.
Esquecia de eleogiá-la, de mostrar interesse, de observá-la de forma diferente, de demonstrar vontade de segurá-la nas mãos e não deixar escapar.
Assim, eu mesmo fiz com que a cachaça tão gostosa escapasse entre meus dedos e se esvaisse paulatinamente.
Agora não tenho mais a minha cachaça e estou sedento dela.
Será que encontrarei outra para me dar o mesmo prazer?
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