22 de junho de 2005

MINHA MÃE

20 DE JUNHO DE 2003.
Às 21:15, aproximadamente.
Localidade do Ramal, em frente a aldeia munduruku Piquiarana, às margens do rio Tapajós.
Uma rede rangendo, um rádio de pilhas, Rádio Nacional de Brasilia, Kleber contando vantagens da pescaria da tarde. Quase nada pra fazer.
De repente, um ronco de uma Toyota quebra a monotonia.
Finjo que durmo imediatamente, como se pressentindo uma notícia desagradável.
É batata: minha mãe havia falecido!
O prefeito tinha mandado o Valdo e o Manoel me buscar imediatamente, assim que lhe foi transmitida a notícia decepcionante de que eu não a veria novamente.
Nem viva nem morta!
E não a vi mais.
Nem que eu quizesse não dava tempo de chegar para prestar as últimas homenagens para aquela mulher simples, lutadora, amiga, atenciosa, MÃE.
Ela merecia que seus filhos estivessem todos juntos no seu adeus final, mas por decisão unilateral do destino nós estavamos, quase todos, longe dela excluindo o Pipa (que viajou imediatamente pra Belém assim que soube que ela estava na UTI), a Dora (que mora em Belém) e a Marly (na casa da qual ela estava vivendo há mais de dois anos).
Foi um duro golpe, mas tinha que aguentar para que os outros não desabassem.
E, incrível, todos se preocuparam muito mais comigo que era tido como o "xodó" da mamãe, talvez porque ela amasse aquele velho meu pai e visse em mim sempre o seu Cabralzinho, filho do seu Cabral.
Só desabei na missa de 7º dia. Foi demais aguentar calado, sofrendo interiormente a falta que a sua presença me causava. A minha ausencia a seu lado quando ela morreu. A ausencia que ela ia me causar pro resto de minha vida.
E chorei.
E ainda choro solitariamente, tento externar a vontade de estar a seu lado, reclamar para ela e ouvir seus conselhos que nunca cumpri, pensar que poucas vezes mostrei, da mesma forma que ela, o amor que sentia, cumprir certos rituais que ela não se cansava de fazer tais como ir à missa diariamente, conversar com a Dona leonil (também já falecida), com a Ditosa, com a Corina e com outras amigas que devem estar se lembrando dela continuamente.
E a vida nunca mais foi a mesma.
Mudou.
Comecei, mesmo a conta-gotas, a ouvir mais as pessoas ao meu redor.
Devo muito à minha mãe. Muito mais do que sou e menos do que deveria ser se a escutasse mais. Uma parte de mim morreu há dois anos atrás, mas tenho que cumprir meu destino para poder lhe dar ainda mais satisfação, até que nos reencontremos no reino dos mortos.
Obrigado, mãe por ter me dado vida e me transformado num ser apaixonado por você.
Eternamente serei seu maior fã.

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