19 de agosto de 2005

INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZONIA

Muitos lutam contra. Poucos conhecem os mecanismos internacionais (manobras escusas) para internacionalizar a Amazonia. Este artigo nos dá uma noção do que acontece neste tema:

:: Notícias do Jornal do Meio Ambiente Online ::
Artigo - A Amazônia já foi internacionalizada
Data: 19/8/2005
Por Henrique Cortez -

A questão da Amazônia e a governança global é uma ameaça, como tantas outras já realizadas. Uma ameaça que cresce na medida em que a crescente savanização da Amazônia torna-se um risco para o clima planetário. Novamente retornam as preocupações para com a internacionalização da Amazônia, inclusive servindo de lastro para acusar os ambientalistas, ONGs e críticos da devastação, como se estivessem a soldo de interesses escusos. Como pano de fundo, temos o medo de uma pretensa internacionalização de nossa Amazônia. Aliás, freqüentemente falamos da nossa Amazônia, das ameaças à nossa Amazônia, dos desafios da Amazônia brasileira, e por aí vai, sempre esquecendo que a região não é apenas nossa. O eterno argumento em defesa da nossa Amazônia contra a internacionalização é um equívoco, porque composta por 8 países a Amazônia continental já é internacionalizada. A omissão das autoridades, a falta de uma compreensão real e efetiva do que seja desenvolvimento sustentável, a descontrolada expansão da fronteira agropecuária e a atuação impune de grileiros e madeireiros são claros componentes da destruição de mais de 23 mil Km2 em 2003 e de mais de 26 mil Km2 em 2004. Nossa Amazônia não é só nossa e não corre risco de ser internacionalizada, pois já pertence a mais sete países vizinhos. Precisamos é agir em parceria em sua defesa. A Amazônia continental possui cerca de 6 milhões de quilômetros quadrados, sendo 3, 5 milhões no Brasil ou 42% do território nacional. No entanto, a participação relativa em termos de área é muito maior em outros países, como a Guiana e o Suriname, do que no Brasil. Devemos ter a responsabilidade de compreender que os equívocos de nossas políticas públicas (ou da ausência delas) na conservação e uso sustentável da nossa amazônia afetam diretamente mais 7 países e, indiretamente, todo continente e, em seguida, todo o planeta. A expansão irresponsavelmente descontrolada da fronteira agropecuária está devastando o presente e pode exterminar o futuro, não apenas do cerrado e da Amazônia, como de toda a agricultura sustentável de nosso país. Todas as autoridades públicas, tem a obrigação de saber disto e atuar na defesa dos interesses nacionais, sem apelar para o fácil argumento de um pretenso inimigo externo, como justificativa para a ocupação e exploração irresponsável. Mais uma vez reafirmo que, como muitos outros ambientalistas, compreendo o desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. E continuaremos repetindo à exaustão que, este equivocado modelo de desenvolvimento, é apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente. E, em termos de Amazônia continental, a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) é de fundamental importância para que a região amazônica tenha um tratamento estratégico e adequado. O Tratado de Cooperação Amazônica, assinado pelos oito países que compõem a Amazônia Continental Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela , tem o objetivo de promover ações conjuntas para o desenvolvimento da Bacia Amazônica. Pena que, até hoje, diversos governos ainda não perceberam a importância da OTCA para o desenvolvimento e a segurança da região. E nisto tradicionalmente somos omissos, porque, de fato, não temos uma real estratégia de integração com os demais países amazônicos. Descontando a conversa mole e as bravatas, pouco ou nada realmente estamos fazendo pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia, da nossa e dos nossos vizinhos. Não creio que corremos o risco real de ter a nossa amazônia invadida em prol da governança global, mas certamente teremos problemas nas relações multilaterais, no acesso aos financiamentos internacionais e no boicote aos nossos produtos e serviços. Este é um risco real e imediato. Não há como negar que seremos cobrados e muito. Cobrados e com razão. Mas ainda temos tempo e oportunidade de dizer a nós mesmos, antes de dizer ao mundo e aos nossos vizinhos, que somos capazes de agir com responsabilidade e seriedade.
Ainda há tempo, mas precisamos correr.

Henrique Cortez, ambientalista e sub-editor do
Jornal do Meio Ambiente.

2 comentários:

Desambientado disse...

Gostei imenso deste artigo.

Cumprimentos.

Jubal Cabral Filho disse...

Acredito que é como as conchinhas do mar. Eu faço a minha parte, de mansinho.