28 de fevereiro de 2010

Uma ilha no Amazonas

Paulo Paixão


Comprida e estreita,
Entre o rio e um lago,
Como se estivesse perdida e intocada...

E o fora porque estivera no fundo
Do rio de inverno: cheio, transbordante.
Agora, as águas baixaram.
Aparecera para o sol (era verão)
E para a vida...

Solitária, encimada por capinzais,
Silenciosa..., isto é, às vezes, quando
A natureza se acalmava.

Uma casa toda de palha velha
Driblava o tempo.
Era a morada de um pescador.

Lá fiquei noites e dias, ora
Assoberbado, ora amedrontado....
Olhava o rio das cobras grandes e
Das piraíbas enormes de cima
Do barranco, recebendo sensações
Tantas: o cheiro das águas, de estrume
De gado, dos arbustos aromáticos...
A corrida desenfreada dos ventos
Sobre o leito do rio, as copas das árvores
E sobre o nosso corpo, massageando-nos,
Enlevando-nos e instando-nos a contatar
Com os santos e com a poesia...

À noite, conquanto as chatices dos carapanãs,
O brilho da lua e das estrelas descobriam o
Vasto campo e faziam das maresias do rio
Diamantes, espelhos resplandecentes para
O encanto de Iara e o chororô dos poetas.
O caboclo Zizito chegou da pescaria
Com cambadas de acaris e curimatãs
E os assou contando estórias de visagens e
Aparições...
E ainda que descrente de tais mitos,
Dormi atemorizado, chegando a acordar
Várias vezes, com as batidas do vento na porta
E o marulhar dos banzeiros de encontro às
Barrancas.

Amanheci vendo a revoada de pássaros
Atravessando a ilha numa cantoria
De despertar os bichos subterrâneos como
As formigas e os sapos.
Pude, então, perceber com nitidez a música de
Deus na voz dos pássaros, do vento, do rio, da
Mata...

Ouvi de dentro de mim o som do êxtase, o
Som de mim; a minha individualidade, o corpo
Do meu pensamento, enfim, aquilo que o Nosso
Deus nos garantiu sermos: a sua imagem
E semelhança!  

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