Imagem: Corbis/Charles Waller
[EcoDebate] Depois do relatório acusatório dos cientistas do Painel Intergovernamental da ONU, já ouvimos e lemos mais de duzentas palestras, entrevistas, informações, discursos, proferidos por pessoas que, institucionalmente, são ou se sentem autoridades no assunto ambiental. Todas são unânimes em tratar o problema vivencial do planeta de uma forma inteiramente em desacordo com a realidade. Pior ainda: defendem que o desenvolvimento deve ser feito de forma sustentável.
Eu me sinto desconfortável em minha inteligência ao ouvir alguém defender o desenvolvimento sustentável para ficar bem com a classe econômica e com os ambientalistas. Uns o fazem na intenção de colocar o desenvolvimento materialista em destaque. Outros, inadvertidamente, se deixam levar para a semântica que transformou a expressão em “sustentabilidade”, palavra que também é bandeira dos defensores da ecologia. Percebemos que aquele discurso está sendo dirigido a um rebanho de ingênuos, a quem compete apenas balançar a cabeça, como concordância cômoda e irracional.
Os participantes da engrenagem econômica repetem e defendem o mesmo bordão, porque conveniente aos seus interesses de ganância. Vem-me à idéia a imagem de alguém querendo me enfiar um enorme punhal na altura do coração, dizendo-me que isso me faria bem pois se trata de simplesmente de um punhal curativo. Ou os arautos da sabedoria estão inteiramente equivocados, provando assim que são incapazes de enxergar o obvio – o que os levaria à categoria de complacentes – ou estão munidos da satânica ferramenta lingüística da má-fé.
Uma breve análise do lema empunhado mostra sua verdadeira natureza. Desenvolver significa (vide dicionários): crescer, aumentar, progredir, expandir, tornar-se maior. Sustentar significa (vide dicionários): segurar, suportar, conservar, manter, reprimir, conter. Tradução: crescimento contido. É o mesmo que dizer: esfera quadrada; copo cheio vazio; tristeza feliz, e coisas que tais. Isso se chama paradoxo, absurdo, contradição. É contra esse dizer que não diz que nos insurgimos.
O que o planeta precisa, e com urgência, é de reversão civilizacional das atividades nocivas que o estão degradando. A sustentabilidade se fará naturalmente, pois será conseqüência de atitudes que sustentarão a capacidade planetária de prover os meios de vida à biodiversidade. Até o momento, é possível reverter o rumo do suicídio. Daqui vinte anos a sentença já estará dada.
Um comentário:
Como se diz,Juba: O importante nao eh o mundo que deixaremos para os nossos filhos e sim , que filhos deixaremos para o nosso mundo.
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