22 de outubro de 2008

Voto em Branco

Como nem todos os leitores do Agonia são os mesmos leitores do Quinta (que pena!) passo a disponibilizar o artigo sôbre voto em branco (e vem mais por aí) publicado por lá:

Porque Votar em Branco

Por Rodolfo Marques (*)

Num sistema político-legal-eleitoral como o brasileiro, em que há a obrigatoriedade do exercício do direito de votar (nada mais confuso, não?!), o eleitor pode ser perguntar, mesmo que não ciente da idéia da escolha racional, a seguinte questão: que candidato, se eleito, trará benefícios para mim?
Se não houve uma resposta positiva ou específica a este intento, a tendência é buscar as fugas institucionais, que podem se solidificar com um Voto Branco, um Voto Nulo ou uma Abstenção.
O Voto Branco só é alternativa quando há uma rejeição muito grande aos candidatos em questão. Num segundo turno eleitoral, como o que estamos vivendo em várias capitais brasileiras, ganha maior espaço porque há uma polarização que, para o eleitor médio, pode não permitir uma diferenciação maior entre uma ou outra opção. É um quadro que aparenta ser o mais perceptível em Belém.
Então, por que votar branco e não se abster? Posso apresentar duas premissas básicas para defender tal tese:
a) entrar para a contabilidade eleitoral: pois o voto branco é tabulado, contado, e expressa uma rejeição em questão, sem se auto-alijar do processo, algo que na abstenção não é possível perceber, pois esta pode estar ligada a várias outras causas, como uma viagem ou uma doença. É uma espécie de um protesto da "minoria silenciosa", tese defendida pela alemã Elisabeth Noelle-Neuman(1).

b) buscar a legitimidade, já que essa idéia pode ser espraiada por outros grupos sociais, até mesmo numa lógica de ação coletiva, como defende o autor Mancur Olson (2).
O eleitor busca, muitas vezes, algo em que possa acreditar – e votar em branco pode ser um desses caminhos: é uma forma ter conceitos claros e o que defender num pleito eleitoral.
A partir da leitura de pesquisa e visualização do mercado eleitoral, tenciono a dizer que, nas eleições deste domingo, 26 de outubro, o índice de Votos Brancos, Nulos e Abstenções beire os 40% - num universo de quase 1 milhão de eleitores na capital paraense.
E isso acaba por beneficiar o candidato situacionista - Duciomar Costa (PTB) - pois, apesar de ter um índice de rejeição maior, tem um recall maior, ou seja, uma lembrança maior do eleitorado, para o bem e para o mal. E quem o rejeita (não votando, “embranquecendo” ou anulando o voto) acaba por não elevar o candidato da oposição, no caso, José Priante (PMBD).
Então, votar em branco, pode ser, em si, uma opção real em quadros extremos.
E quadros extremos requerem medidas extremas.


(1) Autora alemã da Teoria da Espiral do Silêncio.
(2) Autor do livro A Lógica Dual da Ação Coletiva

------

(*) Rodolfo Marques é jornalista, professor universitário e mestrando em Ciência Política.

Nenhum comentário: